domingo, 9 de novembro de 2008

MILTON SANTOS

Por Priscila Souza de Carvalho*

RESENHA DO LIVRO “POR UMA OUTRA GLOBALIZAÇÃO: do pensamento único a consciência universal” DE MILTON SANTOS.

A obra de Milton Santos “Por uma outra globalização do pensamento único à consciência universal” é a mostra de um grande pensador e de muito trabalho, pois a obra reuni todo o trabalho existente para pensar o atual período histórico que vive a humanidade de forma critica, trazendo a realidade todos os mitos e verdades e apontando o movimento dialético deste mesmo processo que pode mudar o sentido da vida global . Assim pretende compreender os mecanismos, limites e força para apresentar esperança de que não estamos no fim da história.

Falamos aqui afinal do processo de globalização que compreende a internacionalização do capitalismo, que em busca de uma percepção critica da produção deste processo analisa em três momentos: a globalização como fábula, a globalização como perversidade, e como pode ser outra globalização.

A fábula corresponde à fala de que participamos de uma aldeia global onde temos todas as informações instantaneamente de qualquer lugar, não existe mais distância, as fronteiras não têm porque de existirem, estamos todos conectados sobre um mesmo tempo e espaço e tudo isso graças a um mercado global capaz de homogeneizar os vários lugares não é necessário o Estado.

A perversidade da globalização é a desmistificação de todo mito em torno do que é produzido pelo capital, um discurso que busca legitimar e dar liberdade para seus fins, acumular capital, e utiliza qualquer meio que justifica pelo fim.

Apresentamos aqui a tese central de Milton Santos demonstra como o carro chefe que conduz e fundamenta a globalização é a técnica da informação, da ideologia, que apresenta idéias que nos torne adaptados a monetarização da vida, que naturaliza por meio de seus mitos toda a perversidade que produz, toda pobreza, fome, desemprego violência, salários baixos, mortalidade infantil, educação de baixa ou nenhuma qualidade, egoísmo, cinismo, corrupção.

Despotismo da informação utilizada apensa por alguns atores como as empresas e alguns Estados, que só passam informação de acordo com seu interesse particular, afinal existe uma competitividade e mais importante do que a verdade é convencer. Não existe mais a noção de bem publico, solidariedade. O que se quer produzir é antes de tudo consumidores, antes mesmo da mercadoria, todos tem a liberdade de consumir como se isso significasse cidadania ou democracia política. O que temos é uma democracia de mercado.

O discurso está alicerçado na ciência, na racionalidade, e antecede toda ação humana, a técnica essencial a produção material da vida ao ser dominada pela ideologia, repassa-se a todos os objetos e assim alcança estado real, as idéias, os homens, comportamento, relações, lugares, a ideologia se transforma em situação atinge assim também a ciências sendo de ordem política. Destaque para o papel do intelectual e da política, que rompa com o despotismo e totalitarismo do discurso atual e construa de fato conhecimento não em função de um mercado e seu valor mesquinho, individualista e corrupto, mais conhecimento que sirva ao espaço vivido e que tome o homem todos igualmente como o centro de sua preocupação e não o dinheiro.

Mediante o discurso de que as empresas trazem o desenvolvimento, a modernização, e os empregos tão necessário, idéia que dá as empresas poder de agir sobre os lugares e transformá-los segundo seu interesse, modificam as relações locais por projetos que visam a economia global agindo pontualmente em espaço de forma organizacional, impõe assim verticalmente de cima para baixo sobre os espaços horizontais sem cogitar o interesse comum, a convivência e solidariedade, dos espaços de vivência, acaba, por conseguinte a atravessar a soberania e particularidades de cada espaço banal.

Apesar do mito de inevitabilidade de inserção deste processo perverso, as contradições vão se colocando mais claras, a produção de pobreza por esta mesma lógica, a de violência estrutural - provocada pela competitividade pelo dinheiro que vai se impondo e formando a consciência do individualismo, vão sendo percebidos pelos espaços horizontais, os quais se encontram as empresas mais antes de tudo as instituições do Estado e os homens, os trabalhadores - o espaço banal se torna assim um espaço de resistência, em que aqueles afetados pelo processo de globalização atual criam novas racionalidades para sobreviverem.

Entramos aqui na lógica que Milton Santos define como endógeno gerado pelos excluídos, o outro é o exógeno gerado pelas empresas. Todos estes processos encontram centralizados nos centros urbanos em que se concentram todos os atores do processo de globalização, e daí saem os “mandos e desmandos” endógenos e exógenos.

A agricultura quase não tem como resistir ao processo de monetarização da propriedade da terra e da técnica, foram praticamente tomados pelas empresas e o Estado não consegue nenhum controle, pois a alta produção exigida para atingir produtividade está completamente dependente da ciência e da assistência técnica.

As cidades ponto de vivencia dos excluídos da competitividade, da acumulação de riqueza, da informação da técnica de produção, aloca a nova consciência que tem como centralidade não o dinheiro, mais o homem. Excluídas assim de serem atores do processo de globalização, na relação com as pessoas, na relação de vizinhança, vão produzindo técnicas de sobrevivência que produzem uma cultura completamente diversa e rica, contendo todas as particularidades e necessidades coletivas, construídas em solidariedade, que busca a cidadania, uma nova consciência, não só, como demonstra Milton, possível como necessária. Entende não como negativa a universalização de técnicas e tecnologias e redes, a ideologia o interesse político a que serve é onde se encontra o problema, é necessário criar um novo discurso sair da lógica monetária e entrar na lógica mais humana, que dê “novo sentido a existência de cada pessoa” (pag. 174)

*Priscila Souza de Carvalho é estudante de Ciências Sociais na Universidade Federal de Uberlândia e diretora do DCE-UFU.


BIBLIOGRAFIA

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2000.