quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Justiça dos latifundiários criminaliza o movimento popular

Por MTL-DI Goiás

Na quarta feira dia 26 de novembro, foi preso o coordenador Vanderlei Pereira de Souza do acampamento santa dica no município de Faina. A informação é que ainda há mais 03 mandatos de prisão para Pedro Gomes da Silva, Abel Batista e Elson.

Há duas semanas um grupo de famílias organizadas no MTL-DI ocupou a "Fazenda de Cima" no Município de Faina/GO. Logo após a desocupação pacífica em cumprimento a liminar foi expedida pelo Juiz da Comarca da Cidade de Goiás, Dr.Silvano Divino Alvarenga.

As famílias fizeram acordo com o oficial de justiça que em dois dias desocupariam a fazenda, contando a partir de segunda feira, dia 24/11. Como foi combinado as famílias desocuparam e retornaram para o acampamento de origem.

Após isto, duas viaturas da polícia militar foram ao acampamento "Santa Dica" no município de Faina, com um mandado de prisão para os quatro companheiros, encontrando somente Vanderlei Pereira, que levaram diretamente para a cadeia pública da Cidade de Goiás. Até este momento não temos informações precisas do motivo da prisão.

Enquanto o banqueiro Daniel Dantas, Celso Pita o doleiro Naji Narras estão soltos os trabalhadores que lutam por seus direito estão presos.


“A justiça dos ricos é a injustiça dos pobres”.

Pedimos solidariedade ao companheiro que se encontra preso. Envie seu protesto e o pedido de liberdade para mtldi.nacional@gmail.com com cópia para o e-mail da conlutasgo@gmail.com

Envie fax para o juiz Dr. Silvano Divino Alvarenga.
Número: 062- 33717340( Comarca da Cidade de Goiás )


Coordenação Estadual MTL-DI/GO


Site: http://mtl-di.blogspot.com

E-mail: mtldi.nacional@gmail.com

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

NOTA DO MST SUL DE MINAS GERAIS

Por MST Sul de MG

Nós Trabalhadores Rurais Sem Terra organizados peloMST, acampados nas terras da antiga usina Ariadinopolis viemos a público para denunciar uma grande injustiça que vêm sendo cometida há anos em território mineiro.


Desde 1997 o MST organiza as famílias para reevindicar a reforma agrária nas terras que até então estavam abandonadas pela Ariadnopolis. Acampados e produzindo desde então já fomos vítimas de 5 reintegrações de posse, mas mesmo com toda a truculência do aparato repressor do estado, não arredamos das terras, produzindo alimentos, reproduzindo a vida através de práticas agroecológicas, da educação do campo e da solidariedade Sem Terra .


Este mês pela 6ª vez o poder judiciário concede uma liminar de despejo, nos expulsando da terra num ambiente de terror e desrespeito, pois não temos para onde ir e estamos prestes a perder TUDO o que plantamos nestes 11 anos de luta. Esta é a realidade: Os trabalhadores sofrendo com o terror do estado.


Depois de 11 anos, com 280 famílias acampadas e produzindo nos mais de 6000 ha de terras antes vazias, culpamos o Estado e o Governo brasileiro por não ter uma verdadeira e honesta política de reforma agrária, porque privilegia o latifúndio e o agronegócio sem nenhum critério, a não ser o da sua própria lógica burguesa, de beneficiar os “heróis” usineiros e penalizar os pobres do campo.


A Usina Ariadinópolis é um símbolo de uma estrutura agrária atrasada que excluiu milhões de camponeses ao longo da história do Brasil. As dívidas da usina ultrapassam os 180 milhões de reais para com a União, o que a obrigou a abrir falência em 1993. Mas sua dívida vai além desse valor. Entendemos que esta dívida é também com o Povo Brasileiro e, sobretudo com os mineiros por décadas de exploração, trabalho escravo e crimes ambientais.


Sabemos que a Reforma Agrária é sem dúvida um projeto necessário para o Brasil, principalmente neste momento em que o agronegócio se mostra incompetente para resolver problemas estruturais da sociedade, como a crise de quantidade e qualidade dos alimentos e os sérios problemas ambientais que estamos sofrendo por conseqüência do modelo que vem sendo imposto nos campos de todo mundo.


Não arredaremos um passo da decisão tomada há 11 anos de destinar essas terras da burguesia agrária para a produção de alimentos e de vida. Lutaremos contra mais essa liminar de despejo e se mesmo assim formos expulsos, voltaremos pela sexta vez, pela sétima e oitava se forem necessárias, até que se faça valer a lei e que a reforma agrária saia do papel e seja implementada nas antigas terras da Ariadinópolis.

Reforma Agrária por Justiça Social e Soberania Popular!

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

Para maiores informações:

Sílvio (35) 9168-4644

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Luz amarela para Chávez

Por Gilberto Maringoni - Agência Carta Maior

Governo vence eleições regionais na Venezuela. Mas oposição conquista regiões importantes e busca se dissociar da imagem de golpista. Chávez segue com apoio da maioria da população, mas sociedade mais nuançada expressa avanço da democracia e apresenta um quadro diferente dos anos anteriores. A análise é de Gilberto Maringoni.

domingo, 23 de novembro de 2008

AGU está juridicamente obrigada a processar militares acusados de crime

Escrito por Gabriel Brito do Correio da Cidadania
15-Nov-2008

Ainda à espera de posições firmes e definitivas do Estado brasileiro, as discussões em torno da Lei de Anistia e sua respectiva interpretação ganharam novos ingredientes nos últimos tempos. A AGU (Advocacia Geral da União), em ato contestado por diversos setores do judiciário nacional, resolveu assumir a defesa dos militares Carlos Alberto Brilhante Ustra e Audir Costa Maciel, este último já falecido. Além disso, é crescente a pressão de parte da sociedade brasileira no sentido de exigir do governo e do judiciário pareceres sobre a abertura dos arquivos e da interpretação dos crimes cometidos pelos militares.

Para analisar tais questões, o Correio da Cidadania conversou com o Procurador do estado de São Paulo Damião Trindade, agraciado em 2008 com o Prêmio Nacional de Direitos Humanos "João Canuto", entregue pelo Movimento Humanos Direitos. Para sustentar a posição de que os crimes perpetrados pela ditadura são imprescritíveis, Damião enumera as diversas convenções às quais, desde 1914 em Haia, o Brasil tem se submetido, o que por si já impediria o país, nos marcos do direito internacional, de não julgar tais crimes na condição de lesa-humanidade.

Quanto à defesa dos militares oferecida pela AGU, Trindade, autor do livro ‘História Social dos Direitos Humanos’, considera tal caso "assombroso", pois a "União estaria juridicamente obrigada a ingressar diretamente com ações contra os agentes criminosos identificados, para compeli-los a repor ao erário esses valores que, por culpa deles, está sendo obrigada a desembolsar como indenizações aos sobreviventes e às famílias dos mortos e desaparecidos".

Correio da Cidadania: Como você avalia as propostas de revisão da anistia aos agentes do Estado que cometeram crimes, como a tortura e execução a sangue frio de presos e resistentes durante a ditadura militar?

Damião Trindade:
Não se trata propriamente de rever a anistia desses agentes criminosos do Estado. Tanto a lei 6.683/1979 (lei da anistia), como o artigo 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição Federal de 1988 (que ampliou a anistia) e a Lei 10.599/02 (que regulamentou esse dispositivo constitucional) anistiaram apenas crimes políticos, os crimes a eles conexos e crimes eleitorais. Mas, quando agentes do Estado seqüestravam pessoas, torturavam-nas no interior de repartições públicas, matavam-nas, muitas vezes ocultando seus cadáveres, não se trata mais de crimes políticos nem conexos, e muito menos eleitorais, e sim de crimes de lesa-humanidade, cometidos à margem da legalidade criada pela própria ditadura, pois nenhum dos governantes da ditadura jamais emitiu qualquer decreto-lei "autorizando" torturas, homicídios ou desaparecimentos forçados. Mesmo se existisse alguma norma com esse conteúdo, seria completamente ilegal à luz do Direito Internacional Público, ao qual o Brasil se submete.

CC: Como o Direito Internacional se aplica nessas situações?

DT: No terreno específico da garantia da vida e da incolumidade de pessoas presas, o Brasil aderiu aos comandos emanados do direito internacional já em 1914, quando ratificou a Convenção de Haia sobre o respeito aos princípios humanitários e às chamadas "leis da humanidade" durante as guerras, com a obrigatoriedade de preservação da vida e da integridade de prisioneiros. Depois, em 1945, o Brasil subscreveu carta de criação da ONU, documento fundado na busca da paz e na defesa dos direitos fundamentais da pessoa humana – a começar pela vida e pela integridade física.

Além disso, naquela mesma época o direito internacional engendrava a figura penal dos "crimes de lesa-humanidade", que foi definida no estatuto do Tribunal de Nuremberg (confirmado pela ONU em 1946). Logo em seguida, essa modalidade criminal foi também acolhida pelas Convenções de Genebra (1949) e pela Convenção contra o Genocídio. Mais tarde, as convenções contra a tortura e contra desaparecimentos forçados, assim como o Estatuto de Roma, pelo qual foi criado o Tribunal Penal Internacional, reiteraram integralmente aqueles conceitos jurídicos desenvolvidos nos pactos celebrados no imediato pós-Segunda Guerra Mundial.

Todos os documentos que mencionei até agora foram subscritos pelo Estado brasileiro. Assim, desde 1946, para dizer o mínimo, as figuras dos crimes de lesa-humanidade já ingressaram no ordenamento jurídico brasileiro vindas do direito internacional – portanto, já eram normas com plena eficácia jurídica quando houve o golpe militar de 1964. Parece que os ditadores "se esqueceram" disso, ou não acreditaram que aqueles documentos pudessem ser levados a sério. Mas firmou-se por completo o entendimento nos tribunais internacionais de que torturas, assassinatos e desaparecimentos forçados de prisioneiros, cometidos por agentes públicos durante ditaduras, são, sim, crimes de lesa-humanidade.

Por fim, a Corte Interamericana de Direitos Humanos já decidiu que tal tipo de crime não é passível de anistia, seja por leis produzidas pelas próprias ditaduras – a chamada "auto-anistia", como é a nossa lei de 1979 – seja por leis posteriores a elas, pois se considera que tais crimes afetam não só suas vítimas diretas, mas a própria humanidade em si. Logo, o perdão ou "esquecimento" não pode, juridicamente, ser operado pela legislação interna de nenhum país. Esses crimes, conforme a jurisprudência dos tribunais internacionais, são imprescritíveis, não importa o tempo que passe. Sua punibilidade penal só se extingue com a morte dos agentes que os cometeram.

CC: O que pensa a respeito de a AGU, Advocacia Geral da União - ou seja, o Estado brasileiro -, considerar os militares processados por seus atos no antigo regime como beneficiários da lei de anistia e assumir suas defesas? Não é uma flagrante contradição dentro de um Estado que, em tese, repudia e condena tal período da história?

DT: Esse caso é espantoso, pois nem se trata de persecução penal de agentes da ditadura. O Congresso Nacional editou a mencionada lei 10.559/02 que, dentre outras matérias, obrigou o Estado a indenizar as vítimas ou seus familiares pelos crimes cometidos por agentes públicos durante a ditadura. Em decorrência, o Estado vem indenizando os sobreviventes e as famílias dos mortos e desaparecidos, isto é, vem reconhecendo, nesses casos bem documentados, que o Estado tolerou condutas criminosas de seus agentes, condutas que estão agora gerando efeitos financeiros contra o próprio Estado. Esse dinheiro das indenizações saiu e continua a sair do erário.

A rigor, a União estaria juridicamente obrigada, ela mesma, a ingressar diretamente com ações contra os agentes criminosos identificados, para compeli-los a repor ao erário esses valores que, por culpa deles, está sendo obrigado a desembolsar. Esse tipo de procedimento ocorre todos os dias na administração pública. Por exemplo: uma ambulância pública bate num carro particular. O dono do veículo privado demanda indenização do Estado pelos danos sofridos. Se o acidente ocorreu por culpa do condutor do veículo oficial – por exemplo, se avançou no cruzamento enquanto o semáforo estava vermelho –, ele terá de ressarcir as despesas com que o Estado arcou para reparar os danos tanto da viatura oficial, como do carro particular. Se não aceitar ressarcir amigavelmente, a administração pública tem o poder-dever de ajuizar uma ação contra ele para ressarcir-se.

Isso, repito, acontece todos os dias. Por que o governo federal não aplicou o mesmo critério no caso das indenizações políticas? Por que a própria União não processou os agentes da ditadura para que ressarcissem ao erário as despesas com as indenizações pagas? Pois foi necessário o Ministério Público Federal tomar tal iniciativa, na defesa do patrimônio público. O MP federal ajuizou uma ação contra dois ex-comandantes do DOI-CODI de São Paulo, para responsabilizá-los financeiramente (não penalmente) por cerca de 60 indenizações pagas pela União relativas a mortos e desaparecidos naquele centro de horrores durante o período em que aqueles dois militares o dirigiram. Ou seja: a ação é em defesa do patrimônio da União.

Os réus são os dois militares, não a União. Chamada a pronunciar-se no processo, a União, representada por sua Advocacia Geral, deveria ter endossado a iniciativa do MP. Mas, para assombro e estarrecimento dos próprios meios jurídicos do país, a AGU defendeu os réus! Colocou-se contra o próprio interesse patrimonial da União! Mas, como a AGU deve representar a vontade da União, agora a decisão se desloca para as mãos do presidente da República. Ele deve dizer com todas as letras à nação qual deve ser a vontade que a AGU deverá representar em juízo. Com um simples comunicado interno, ele pode determinar a mudança de posição da AGU. Há inteira base jurídica e processual para isso. A menos que não queira fazê-lo, o que seria horrível, uma capitulação política completa!

CC: Membros mais destacados do governo já se posicionaram contra tal posição da AGU. Desta forma, de onde viria a influência para a defesa dos acusados em questão? Fatos como esse não seriam, ademais, o preço a pagar em função de não se ter limpado dos quadros do poder – nas áreas política, administrativa e jurídica – pessoas fortemente ligadas ao regime antigo?

DT:
A vacilação governamental até em determinar que a AGU assuma o pólo da defesa do ressarcimento do erário é algo sério. Não adianta superestimar fantasmas como "pressão militar", claro que ela ainda deve existir. Mas, se for esse o caso, até quando o governo eleito para defender o patrimônio do Estado e a própria democracia postergará o enfrentamento desse problema?

CC: Ao lado da falta de vontade política, por que o Brasil, signatário de múltiplas convenções que condenam imprescritivelmente os crimes da ditadura, conforme destacado acima, é vagaroso na solução dessas antigas feridas, incluindo-se nisso a abertura dos arquivos?

DT:
Porque falta uma decisiva mobilização social para obrigar os governantes a honrarem os compromissos internacionalmente assumidos pelo país e os próprios compromissos que esses governantes assumiram com o povo de defender a ordem democrática.

CC: Por que, ademais, o país apresenta uma dificuldade maior que seus vizinhos de passado semelhante em ir além das reparações às famílias afetadas?

DT:
Nos países vizinhos do Cone Sul, a pressão social foi certamente maior, até porque lá os mortos das ditaduras contaram-se às dezenas de milhares. E também porque nesses países não se desenvolveu, ao menos não com a força socialmente anestesiante que ganhou por aqui, um certo modo de dominação ideológica, historicamente produzido por nossas classes dominantes, que a grande mídia reproduz sistematicamente, que mistura hipocrisia, cinismo e covardia, expressando-se em máximas tais como "é melhor não mexer no passado", "vamos deixar as coisas como estão", "vamos olhar para o futuro"...

Essa idolatria do medo, essa postura omissa do "não quero me comprometer", à qual a classe média brasileira tornou-se muito receptiva, cumpre o papel de amortecer a indignação social. E também não se deve subestimar que uma fração imensa dessa classe média é politicamente reacionária mesmo, egoísta e fútil, sem nenhuma sensibilidade em relação ao drama social, apoiou a ditadura e apoiaria qualquer governo, mesmo abertamente fascista, que assegurasse a ela condições para continuar comprando roupas da moda e trocar de carro ano sim, ano não.

CC: O momento não pede por uma entrada definitiva, e consequentemente uma solução, por parte do judiciário brasileiro em relação a como tratar os crimes cometidos pela ditadura?

DT:
Temo pela posição que o Supremo Tribunal Federal possa vir a adotar nesse assunto. A julgar por declarações de seu atual presidente e de alguns outros integrantes daquela corte, há uma vertente interna que quer mesmo "colocar uma pedra sobre o passado", o que conduziria o Estado brasileiro a uma situação de vexame mundial. O Tribunal Interamericano de Direitos Humanos e a Corte Internacional de Haia certamente condenariam o país por essa omissão. Isso já aconteceu com os nossos países vizinhos. Argentina, Chile e Uruguai passaram a julgar mais frequentemente os homicidas e torturadores de suas ditaduras depois que seus militares começaram a ser condenados em cortes internacionais. As entidades brasileiras de Direitos Humanos já estão se preparando para bater às portas dos tribunais internacionais, caso se confirme a omissão/cumplicidade do Estado brasileiro em relação aos agentes criminosos da ditadura.

CC: O ministro do Supremo Gilmar Mendes chegou a declarar que também seriam imprescritíveis os crimes de "terrorismo" político, praticados pelos opositores do regime, assim como o são os crimes cometidos pelos agentes de Estado no período. O que você responderia a essa afirmação?

DT:
Primeiro, "terrorista" foi a ditadura militar, que derrubou um presidente eleito, jogou a Constituição na lata do lixo e perpetrou durante 21 anos crimes bárbaros contra nosso povo. Os agentes da ditadura foram estupradores de mulheres presas, torturadores de pessoas amarradas em cadeiras, assassinos que ocultaram os cadáveres de suas vítimas. Beira o desrespeitoso chamar de "terroristas" os brasileiros e brasileiras que resistiram ao terror praticado pela ditadura. Isso é posicionamento exclusivamente ideológico.

Em segundo lugar, os que lutaram contra a ditadura nada têm a temer, nada a esconder, nada a negar. Não negam sua luta, orgulham-se dela, ao contrário dos agentes que operavam nas sombras dos centros de tortura e morte da ditadura e hoje negam covardemente o que fizeram! Não conseguiriam mesmo assumir sua própria vergonha – imaginem a dor de seus filhos e netos se descobrirem ou confirmarem que foram gerados por torturadores, estupradores, homicidas, ocultadores de cadáveres e escondedores de arquivos!

Em terceiro lugar, os que combateram a ditadura e dela escaparam com vida já "pagaram" por sua conduta digna, e pagaram duramente, com tortura e prisão, com ou sem condenações naquelas auditorias militares dos anos de chumbo. Para que as feridas possam efetivamente se fechar, o país precisa oferecer aos criminosos da ditadura exatamente o que eles negaram às suas vítimas: acusações penais justas, isto é, não baseadas em provas extorquidas sob tortura, com garantia de amplo direito de defesa, o devido processo legal assegurado e, por fim, sentenças judiciais com direito a todos os recursos previstos na lei processual. Enquanto isso não acontecer, estaremos "fazendo de conta" que aqueles crimes também não aconteceram, o que, além de por si mesmo abominável, é um estímulo imenso, renovado todos os dias, para que as detenções extrajudiciais, a tortura dos presos pobres e seu assassinato se reproduzam nos dias de hoje.

A impunidade dos criminosos da ditadura funciona como uma espécie de "garantia" de impunidade para a violência policial de hoje. Isso já foi até academicamente demonstrado. Mas essa classe média egoísta e infantilizada pelo consumismo nem se dá ao trabalho de buscar entender por que, além dos pobres, também ela própria já começa a ser atingida.

CC: As forças armadas, que até hoje não se desculparam por seus atos de então, ao não renegarem o período em discussão, não se revelam ainda dominadas por alguns dos mesmos valores e conceitos de então?

DT:
Enquanto não abrirem todos os arquivos daquele período vergonhoso, enquanto não localizarem e entregarem as ossadas dos desaparecidos, enquanto não se desvencilharem completamente, por atos e palavras, dos laços antigos com a ditadura militar e de todas as suas simbologias, nossas forças armadas conservarão sobre si a sombra dessa suspeita. Essa suspeita ficará pairando até sobre as cabeças dos democratas que devem existir no seu interior. O país precisa saber definitivamente se suas forças armadas aceitaram tornar-se incondicionalmente fiéis ao Estado de Direito.

sábado, 22 de novembro de 2008

MST faz duas ocupações e protesto contra etanol em SP

Fonte: MST




Cerca de 200 famílias do MST ocuparam as fazendas Tangará e Marruá, localizadas no município de Agudos (325 km da capital), na manhã de quinta-feira (20/11). As duas áreas somam mais de 600 hectares e compõem um complexo de fazendas de mais de quatro mil hectares de terras, já vistoriadas e decretadas improdutivas.
Apesar de estarem indicadas para decreto de desapropriação para fins de Reforma Agrária, as áreas estão cobertas com plantio de cana-de-açúcar para abastecer as usinas da região. Além da Tangará e da Marruá, ainda fazem parte do complexo as fazendas Suinã, Ponte Alta e Nossa Senhora de Fátima.
Outras fazendas da região estavam na mesma situação e, a com a luta do Movimento, cerca de 500 famílias estão sendo assentadas. Os trabalhadores e trabalhadoras exigem que o mesmo aconteça com o complexo Marruá. "Queremos o assentamento imediato das famílias. Estamos propondo a reforma agrária como alternativa para o etanol, um modelo que está falindo com a crise internacional", afirmou Delweck Matheus, integrante da coordenação estadual do MST.
Depois da ocupação, a superintendência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em São Paulo reafirmou que as duas fazendas são improdutivas. De acordo com o órgão, o governo prepara o processo de desapropriação dos latifúndios para possibilitar o assentamento das famílias. O processo deve ter uma decisão nesta sexta-feira.
O decreto de desapropriação depende de uma licença ambiental a ser dada pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. De acordo com o Incra, o fato da área estar sendo utilizada para plantio de cana-de-açúcar não descaracteriza a situação de improdutividade constatada durante a vistoria. O dono da Tangará entrou com pedido de reintegração de posse no Fórum de Agudos.
Protesto
Na manhã de quinta-feira, 600 integrantes do MST, Intersindical, Conlutas, Marcha das Mulheres e diversos sindicatos fizeram uma manifestação para denunciar os impactos sociais e ambientais negativos do programa de agrocombustíveis do governo federal, em frente ao Grand Hyatt Hotel, na zona sul da capital, onde acontecia Conferência Internacional sobre Biocombustíveis.
O protesto denunciou a lentidão do governo em realizar a Reforma Agrária, enquanto a monocultura da cana, as usinas de produção de etanol e as empresas transnacionais avançam – com subsídios do governo federal - para dominar a agricultura, prejudicando a produção de alimentos e o meio ambiente.
Segundo manifesto divulgado nesta semana por diversos movimentos e entregue a à conferência do governo, “o modelo de agricultura industrial, onde se inserem os agrocombustíveis, é intrinsecamente insustentável, pois apenas se viabiliza através da expansão das monoculturas, da concentração de terras, do uso intensivo de agroquímicos, da superxploração dos bens naturais comuns como a biodiversidade, a água e o solo. Os agrocombustíveis representam uma grave ameaça à produção de alimentos. Independentemente dos cultivos utilizados para a produção de energia, comestíveis ou não, trata-se da competição por terra agricultável e por água.”
(Com informações da Agência Estado)

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Charge: Conto de fadas...

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Jean - Folha de S. Paulo
07/11/2008

Nossa Consciência Negra

Alexandre Braga - BRASIL DE FATO

É inegável a herança africana na culinária, na dança, no ethos do nosso povo, mas é inegável também o atraso com que o Estado brasileiro trata essas questões


O Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, é feriado em 335 cidades, segundo levantamento da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir). A data, que será tema de diversos eventos pelo país, lembra o dia em que foi assassinado,o líder Francisco Zumbi, do Quilombo dos Palmares, no ano de 1695. Herói e um dos principais símbolos da resistência negra à escravidão.


Palmares de ontem e hoje

Havia em Pernambuco, Minas Gerais, Bahia e outros estados cerca de 700 quilombos, 2600 comunidades remanescentes e milhares de insurreições que lutaram contra o jugo dos senhores de escravos, período que o sociólogo Clóvis Moura definiu como modo escravista colonial. Em 1971, ativistas do Grupo Palmares, do Rio Grande do Sul, chegaram à conclusão de que o dia 20 de novembro tinha sido a data da execução de Zumbi e estabeleceram - na como Dia da Consciência Negra. Em 2003, a lei 10.639, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, estabeleceu a data como parte do calendário escolar. Mas, apesar dessa agenda de eventos para celebrar a negritude, a nossa consciência negra é fenômeno novo dentre as várias manias adotadas pelo povo. Hoje é “chique ser black”. É moderno cultivar os valores da “cultura black”, enquanto o fosso social entre brancos e negros ( os pretos e os pardos juntos ) mantém o apartheid brasileiro inalterado. O mito da democracia racial, por aqui, foi denunciado como mentira pela realidade socialmente perversa e pelos dramáticos indicadores sociais; que compravam que negro no Brasil está associado à miséria e exclusão social. Por exemplo, somente o IBGE calcula que precisaremos de pelo menos 20 anos de políticas voltadas para as ações afirmativas para colocar brancos e negros em níveis mínimos de igualdade.


Resistência

Portanto, a lembrança de datas como essas têm um viés político muito forte: a resistência venceu a escravidão. Por isso, suas atividades vêm carregadas de tempero emocional. Dessa forma, o Dia da Consciência Negra traz consigo tantas e variadas atividades, como as marchas para aumentar a consciência do pertencimento étnico, os protestos mais raivosos e justos, e as homenagens aos homens e mulheres negros ( Zumbi e Dandara, líderes da República de Palmares; Osvaldão, líder da Guerrilha do Araguaia; Machado de Assis, escritor; André Rebouças, engenheiro especialista em engenharia hidráulica-ferroviária e de portos; Chiquinha Gonzaga, compositora, pianista e primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil, João Cândido, líder da Revolta da Chibata, entre outros) que, de alguma forma, ajudaram na construção da riqueza da nação-continente mais negra fora do continente africano. E o maior significado desse dia é que longe do ranço contra quem quer que seja, hoje a população negra, ou os 49,8% do povo brasileiro, luta pelo cumprimento do plano de ação assumido na Conferência da ONU Contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata em 2001 e pelas propostas da Conferência Nacional de Promoção de Igualdade Racial, organizada em 2005 pelo governo brasileiro. Além disso, o Movimento Negro quer justiça social aos próprios negros, aos povos de tradição indígena e aos demais grupos que durante a construção dessa nação-continente tiveram seus direitos humanos violados. Ou seja, no século XXI o debate sobre as alternativas para o desenvolvimento sustentável, as soluções para superação dos conflitos étnicos e o combate ao preconceito e às desigualdades sócio-raciais se dão entrelaçadas pelo culto à capacidade de resistência dos povos e pelo clamor por eqüidade. É inegável a herança africana na culinária, na dança, no ethos do nosso povo, mas é inegável também o atraso com que o Estado brasileiro trata essas questões. Às vezes quando as assumem o faz lentamente e de forma mais para negro ver do que para negro ter justiça e respeito de fato.


Alexandre Braga é Coordenador de Comunicação da Unegro-MG e da Coordenação Executiva do FOMENE-Fórum Mineiro de Entidades Negras. Email:bragafilosofia@yahoo.com.br


Ilustração por Daniel Carvalho/ Flickr

Orlando Chirino é reintegrado na PDVSA (Petrolífera de Venezuela)

Fonte: Conlutas


No último dia 18 de novembro o Ministério do Trabalho da Venezuela deliberou pela reintegração do dirigente sindical e trabalhador da PDVSA (Petrolífera da Venezuela) Orlando Chirino.


Chirino foi demitido no final de 2007 por defender a unidade, a soberania e a democracia sindical. Desde então foi deflagrada uma campanha internacional pela sua reintegração. Por isso, esta vitória não é só de Chirino. É dos trabalhadores da PDVSA. É dos trabalhadores venezuelanos. É uma vitória de todos os que lutam e defende a liberdade e autonomia sindical.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Vídeo: Cone Sul

Publicado originalmente em Desacato.info

De Enio Staub e João Guilherme Reis e Silva. Registro da repressão em AL. Cedido em exclusiva.

Registro histórico da repressão política latino-americana

16mm/29’/P&B/1985

O Cone Sul é um média-metragem que impressiona pela forma como trata o tema da violência política, praticada nas décadas de 60 e 70 na América Latina, em especial no Uruguai e Brasil. O roteiro conta a história do seqüestro dos uruguaios Lilian Celiberti e Universindo Diaz, realizado em 1978, em Porto Alegre/RS, com a colaboração das polícias militares do Brasil e Uruguai. Trata-se do único seqüestro político internacional, com a colaboração da polícia, reconhecido pela justiça brasileira. O filme mostra a importância da pressão da imprensa para desmascarar a versão “oficial”, reforçando a existência da Operação Condor, aliança político-militar entre os vários regimes militares da América do Sul — Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai — criada com o objetivo de coordenar a repressão a opositores dessas ditaduras, instalados nos seis países do Cone Sul.

O documentário é dinâmico, alternando reconstituição de cenas (rapto, tortura e assassinato) com os depoimentos de defensores dos direitos humanos e vítimas da repressão. Vai além do simples relato do seqüestro, buscando elementos para compor um quadro sensível do que foi a perseguição política nos regimes ditatoriais. Comove ao registrar o sofrimento de pessoas simples, que tiveram suas vidas rechaçadas pela intolerância. Importante registro histórico, que mantém viva a memória dos oprimidos e esclarece as novas gerações, estimulando a luta contínua contra os opressores.

Importante registrar que, neste mês de novembro de 2008, completam-se 30 anos do seqüestro de Lilian e Universindo, o que torna a exibição de Cone Sul ainda mais significativa.

PESQUISA, ROTEIRO e DIREÇÃO: Enio Staub e João Guilherme Reis e Silva / TEXTO: André Pereira e João Guilherme Reis e Silva / PROD.EXECUTIVA: Roberto Azevedo / DIR.FOTOGRAFIA: Enio Staub / MONTAGEM: Marta Luz / SOM: Anele Filho, Carlos de la Riva, Manoel Araújo, Milton Barragan / EQ.PRODUÇÃO: Cristina Pillar, Mari Gindri, Norton Faria, Miguel Ourique, Sérgio Penna, Vera Lúcia Senott / ASS.CÂMARA: Paulo Pacheco.

NARRAÇÃO: Oscar Simch. ELENCO: Luiz Eduardo Crescente, Marlise Saueressig, Oscar Simch, Alba Rosa, Angela Dip, Beatriz Bernardes, Dani Gris, Glicério Bitencourt, João Alfredo Senott, João Batista Diemer, Mara Loguércio, Marcelino Cadauto, Neca Menna Barreto, Nino Capoeira, Sandra Guez, Sérgio Mantovani.

DEPOIMENTOS: Omar Ferri, Carlos Castro, Jair Krischke, Tota Quinteros, Cláudio Benech, Artigas Días, Graziela Dias, Universindo Díaz e Lílian Celiberti.

PRÊMIOS: Festival de Gramado, 1985: melhor curta gaúcho. Rio Cine Festival, 1985: prêmio estímulo.

Resenha: Rafael Gué Martini

Foto: Do cartaz Original – por Paulo Pacheco

Vídeo cedido exclusivamente para o Portal Desacato.

1a Parte: www.youtube.com/watch

2a Parte: www.youtube.com/watch

3a Parte: www.youtube.com/watch

Última Parte: www.youtube.com/watch

www.youtube.com/DesacatoVideos

Número de famílias assentadas cai 68% em comparação a 2007

18/11/2008

De O Estado de S.Paulo

O número de famílias assentadas nos primeiros dez meses de 2008 mostra que o governo pisou no freio da reforma agrária. De janeiro a outubro, foram fixadas em assentamentos apenas 18,6 mil famílias em todo o País, conforme dados obtidos pelo Estado. A queda em relação às 58,2 mil famílias assentadas no mesmo período de 2007, um ano considerado ruim para a Reforma Agrária, é de 68%. Ainda que o governo acelere os assentamentos no fim do ano, ficará longe do resultado final de 2007, quando 67,5 mil famílias foram assentadas.

O ano de 2008 poderá ser o pior do governo Lula no quesito Reforma Agrária: quando assumiu, em 2003, com todas as dificuldades do início do mandato, o governo assentou 36,3 mil famílias. No total, em quase sete anos, o governo Lula pôs na terra 467,5 mil famílias, incluídas as deste ano. Mesmo sendo baixos ante o compromisso de assentar um milhão de Sem Terra em oito anos, os números apresentados pelo governo ainda são contestados pelos movimentos de luta pela terra.

De acordo com Ariovaldo Umbelino de Oliveira, da Abra (Associação Brasileira de Reforma Agrária), o governo incluiu na conta dos novos assentamentos a reposição de lotes desocupados em projetos antigos e a regularização de projetos de colonização agrária, alguns deles do período getulista.

É o caso de um projeto de colonização do município de Barra do Corda (MA), criado em 1942. Segundo Oliveira, as 947 famílias foram contabilizadas entre as 127,5 mil assentadas em 2005. Naquele ano, a reforma agrária teve o segundo melhor desempenho do governo Lula, atrás apenas de 2006, quando 136 mil receberam terra. Já em 2007, o total de famílias assentadas caiu para 67,5 mil.

Refluxo

Para o diretor da Abra, se considerados os assentamentos "reais" - famílias de Sem Terra que recebem o primeiro lote - os números são bem mais modestos. Este ano, o governo assentou até agora apenas 3.126 famílias, segundo ele. "Das 18.630 anunciadas, 9.196 são de assentamentos anteriores e 5.947, de projetos em áreas públicas, também antigos." Fazendo o "expurgo" dos reassentamentos e das regularizações fundiárias - outorga de títulos de domínio a quem estava havia muito tempo na área - o número de famílias assentadas durante todo o governo Lula cai para cerca de 300 mil, afirma Oliveira.

Ele acha que a questão agrária saiu da pauta, não só do governo, mas também dos movimentos sociais. "O refluxo do movimento de massas e o fluxo dos recursos financeiros governamentais canalizados para políticas compensatórias, tipo bolsas disso e daquilo, parecem que estão aquietando aqueles que lutaram pela Reforma Agrária nos últimos 30 anos. É preciso que seja dito também que o silêncio das massas camponesas é intrigante."

Segundo os dados da CPT (Comissão Pastoral da Terra), o número de ocupações de terras bateu o recorde em 2004, com mais de 76 mil famílias, e levou o governo a intensificar os assentamentos no ano seguinte, quando ocorreram 433 ocupações no País. Em 2006, foram mobilizadas 46 mil famílias, e em 2007, cerca de 37 mil. O número de famílias em acampamentos também despencou: em 2003, um total de 59 mil novas famílias foi para os acampamentos, enquanto em 2006, foram pouco mais de 10 mil. No ano passado, esse número caiu quase pela metade.

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) considera que a Reforma Agrária está paralisada. De acordo com Marina dos Santos, da coordenação nacional, "não existe um programa de reforma agrária em curso para assentar todas as famílias que têm interesse em plantar e produzir nem para eliminar o latifúndio". Segundo ela, há dois projetos em disputa para a agricultura, que coloca em confronto o modelo do agronegócio e a pequena e média propriedade rural.

"O governo dá prioridade total ao agronegócio, com políticas de crédito especial e a renegociação das suas dívidas, deixando em segundo plano a reforma agrária." De acordo com a líder, os assentamentos criados pelo governo se caracterizam como projetos de colonização, na região da Amazônia, ou iniciativas assistenciais para resolver conflitos locais.

"A paralisação da reforma agrária e a opção do governo pelo agronegócio obrigaram parte das famílias que querem plantar e produzir a saírem dos acampamentos, por causa da falta de perspectiva de serem assentadas", disse. Mesmo assim, segundo ela, os trabalhadores rurais ainda querem terra e a reforma agrária, mas percebem que o quadro não é favorável.

Apesar disso, a coordenadora do MST diz que não há refluxo no movimento de massas. "Estamos fazendo protestos para denunciar que empresas estrangeiras querem dominar a agricultura e impor o modelo devastador e concentrador do agronegócio, com apoio do governo." Ela destaca ainda que o movimento continua fazendo ocupações de terras e lutas pela reforma agrária, "que a imprensa não tem dado a atenção correspondente".

Para a líder, os programas assistenciais do governo não estão entres os principais motivos da queda no número de ocupações, "e sim a paralisação da reforma agrária e a falta de perspectiva das famílias de serem assentadas".

Dados parciais

O Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) informou que os dados sobre assentamentos em 2008 só serão fechados em janeiro de 2009 e considera prematura uma avaliação com base em dados parciais.

A superintendência do Incra em São Paulo informou que, neste ano, houve problemas técnicos relacionados ao Sipra (Sistema de Informações de Projetos de Reforma Agrária) e está ocorrendo uma revisão dos dados.

sábado, 15 de novembro de 2008

MTST ocupa área em Sumaré. Famílias se levantam para fazer cumprir Plano Diretor!

Fonte: MTST

Astiamos a Bandeira!

Cerca de 700 pessoas do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) ocuparam na noite de sexta-feira (14/Nov) um terreno no Bairro Jd. Denadai, na cidade de Sumaré, interior do Estado de São Paulo.Astiamos a Bandeira!
Nossa principal reivindicação é que a prefeitura cumpra o Plano Diretor do município estabelecido desde 1992 e revisto em 2005. O artg. 3 estabelece metas para a inclusão social e moradia, o que não é cumprido.

Acontece que em Sumaré cerca 23% das famílias estão sem moradia ou em áreas de risco. Isso quer dizer que 65 mil pessoas não têm onde morar, ou vivem precariamente em uma das 78 favelas da cidade. Ou seja, nosso direito, mais uma vez, não sai do papel.
Em 2007, o programa Pró Lar, em parceria com a CDHU – Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano, do Estado de São Paulo, divulgou um estudo da moradia na Região Metropolitana de Campinas. Nele, Sumaré é apontada como segunda cidade da região com maior déficit habitacional, ficando atrás apenas de Campinas.

Outro estudo, realizado por da (PUC-Campinas) em 2008, constatou o baixo investimento na área social na cidade. Não existe qualquer projeto para famílias com renda até dois salários mínimos, ou investimento na qualificação profissional para geração de renda.

Por conta do descaso e desrespeito com todos nós que, acordamos cedo para trabalhar longe, e que não temos nossos direitos cumpridos, ocupamos uma área em Sumaré abandonada há décadas.
Um terreno imenso que não cumpre sua função social, só serve à especulação imobiliária, assombra nossa comunidade e é palco de estupros, desova de cadáveres e tudo que não presta.

Cadê o bem-estar de nossos habitantes, previsto na constituição? Isso é um dever do Estado e não podemos ser coniventes com tal realidade. Passou a hora do Brasil começar a respeitar suas próprias leis.

Até quando vamos abaixar a cabeça para os poderosos e especuladores? Somos um movimento que pretende fazer cumprir os diretos do povo, os mesmos direitos que nossos políticos não cumprem. Não dá pra aceitar esta situação. Ocupamos! E vamos lutar até o fim!

MTST! A LUTA É PRA VALER!

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

MTL-DI ocupa "Fazenda de Cima" em Faina/GO


NOTA À IMPRENSA

Cerca de 70 famílias ocuparam a Fazenda de Cima no Município de Faina, Goiás na madrugada de Sexta 14/11.

A fazenda tem uma área de 2000 ha e foi subdividida, com objetivo de fugir da improdutividade. Tendo conseguido fazê-la, após a vistoria realizada pelo INCRA, onde ficou constatada sua improdutividade, a proprietária entrou com recurso alegando que a fazenda era menor que 15 módulos fiscais, limite mínimo permitido para desapropriação.

Por isso ocupamos para denunciar que a fazenda é improdutiva e precisa ser destinada para reforma agrária, além disto a proprietária cometeu crime ambiental,pois vários caminhões de madeira são tirados todos os dias do local.

Enquanto o Governo mantiver esta legislação atrasada que só protege aos grandes latifundiários, a reforma agrária não avançará e as ocupações são necessárias, para denunciar que o governo não tem coragem de enfrentar a bancada ruralista e de mudar a legislação para que se faça uma reforma agrária de verdade.

Zelito F. da Silva - Coordenação Estadual do MTL-DI/Goiás

Fones: (62) 3093.7572 / (62) 8412.6373.

Site: http://mtl-di.blogspot.com E-mail: mtl.regionalsp@gmail.com

Sem-Tetos de São Paulo, Minas, Rio de Janeiro, Goiás e Brasília ocupam o Ministério das Cidades!

Fonte: Site do MTST

Nesta manhã, por volta do meio-dia, cerca de 400 famílias organizadas pelo MTST, MTL-DI e MUST-Pinheirinho, cansadas de esperar as promessas nunca cumpridas e dispostas a lutar por uma vida melhor, ocuparam o prédio do Ministério das Cidades em Brasília!

O Ministério das Cidades representa o poder que responde pelas questões básicas de nossa vida, como habitação, luz, saneamento básico, transporte... Toda infra-estrutura básica para uma vida digna. Vida que está na Constituição Brasileira como direitos do cidadão, mas que sabemos na pele que nunca são cumpridos.

Como não podemos esperar mais, a custa de nossa própria vida e a vida de nossos filhos fomos a Brasília para representar todos os sem-tetos e lutadores das cidades de São Paulo, Minas, Rio de Janeiro, Goiás e a Capital do País. Nossa manifestação pacífica de ocupação veio, assim, reivindicar:

a) Abertura de negociações oficial com o Ministro sobre as áreas ocupadas pelos respectivos movimentos;

b) Vistoria das áreas ocupadas nos estados de São Paulo (São José dos Campos, Mauá, Embu das Artes), Minas Gerais, Brasília e Rio de Janeiro e Goiás, e

c) Distribuição de cesta-básica emergencial as famílias dos acampamentos.

Como nossa situação é urgente, nós não podemos esperar mais as migalhas do Bolsa Família, sem uma política de verdade para sairmos de nossa situação de sem-teto. Nem podemos esperar mais oito anos de falação bonita sobre o povo, mas que ao próprio povo nunca trás o que diz. Por isso, a disposição é não desocupar o prédio enquanto não formos recebidos pelo Ministério das Cidades, que precisa nos ouvir.

Pode mudar investigação sobre morte de Dorothy Stang

Por J. Domingues. Brasil

Radioagência NP

Fonte: Desacato.info

As freiras Rebeca Spires e Julia Depweg apresentaram na última sexta-feira (07), à mídia nacional, um documento que pode mudar os rumos da investigação sobre a morte de Dorothy Stang. A missionária estadunidense foi morta em 2004, no município de Anapu, localizado no Pará. Tudo indica que os fazendeiros da região armaram uma emboscada para matar a religiosa que defendia o direito de famílias sem-terra da região.

O documento apresentado pelas freiras, que trabalharam durante três décadas com a missionária, mostra que o fazendeiro Regivaldo Pereira Galvão, acusado de ser o principal mandante do crime, procurou o escritório do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em Altamira (PA), no último dia 28, para doar parte do lote onde Dorothy foi morta. O fazendeiro afirma no documento que a propriedade não estava mais em seu nome.

Regivaldo afirma que o lote pertence à Bida, pistoleiro que confessou ter assassinado Dorothy. Na época em que foi preso, Bida afirmou que o mandante do crime tinha sido Regivaldo Pereira. No entanto, meses depois, quando já estava preso, Bida mudou seu depoimento dizendo que tinha matado Dorothy por vontade própria, porque ele mantinha o controle de um lote que era ocupado por famílias da região, ligadas à missionária Dorothy.

O documento indicaria que Regivaldo Pereira mantinha o controle do lote e, portanto, teria motivos para encomendar o assassinato da missionária.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

TERRA ARRASADA


TERRA ARRASADA, E AGORA?

Ciclo de Debates Públicos sobre a temática do êxodo.
De 17 de Novembro a 1º de dezembro de 2008
No Galpão do Folias

Programação:

17/ 11 Stephan Baumgärtel - Professor de dramaturgia e teoria do teatro na UDESC.
“O Ser Humano enquanto órfão no teatro pós moderno”


18/ 11 José Arbex – Jornalista , escritor e professor. Participa do conselho editorial da revista Caros Amigos e do Jornal Brasil de Fato.
“ Relato de um correspondente no estado da Palestina”


24/ 11 Dardo Delgado – diretor e ator do grupo El Galpón do Uruguai
“ A experiência de um grupo teatral vivendo no exílio”



25/ 11 João Pedro Stedile – membro da coordenação nacional do MST e da Via campesina Brasil e autor de várias publicações sobre a questão agrária brasileira.
“ Êxodo e MST”


01/ 12 Prof. Paulo Arantes – Doutor em filosofia pela Universidade de Paris IV, professor aposentado daUniversidade de São Paulo. Autor de diversos livros. Dirige a coleção Zero a Esquerda da Vozes e a coleção Estado de Sítio da Boi Tempo.
“ Extinção”


Local: Galpão do Folias
R. Ana Cintra, 213 Santa Cecília - São Paulo
( Próximo ao metrô Santa Cecília)

Horário: 20 h
Entrada franca

Informações : tel. 11- 3361.2223 / www.galpaodofolias.com.br

terça-feira, 11 de novembro de 2008

A crise em desdobramento e a relevância de Marx

Extraído de resistir.info

por István Mészáros*

Alguns de vocês talvez tenham estado presentes na nossa reunião de Maio deste ano neste edifício, quando recordei o que havia dito a Lucien Goldman, em Paris, poucos meses antes do histórico Maio de 1968 francês. Em contraste com a perspectiva então prevalecente do "capitalismo organizado", que se supunha ter deixado para trás com êxito o estágio da "crise do capitalismo" – uma visão fortemente asseverada por Marcuse e nessa época também partilhada pelo meu querido amigo Lucien Goldman – insisti no facto de que, em comparação com a crise em que estamos realmente a entrar, "a Grande Crise Económica Mundial de 1929-1933" se parecer com "uma festa no salão de chá do vigário".

Nas últimas semanas vocês tiveram uma antevisão do que eu tinha em mente. Mas apenas uma antevisão, porque a crise estrutural do sistema do capital como um todo, a qual estamos a experimentar na nossa época numa escala de era, está destinada a ficar consideravelmente pior. Ela tornar-se-á na devida altura muito mais profunda, no sentido de invadir não apenas o mundo das finanças globais mais ou menos parasitárias como todos os domínios da nossa vida social, económica e cultural.

A questão óbvia que devemos agora tratar refere-se à natureza da crise global em desdobramento e as condições necessárias para a sua solução factível.


CONTINUA: Para ler na íntegra, clique aqui.

*Palestra escrita para uma reunião em Conway Hall, Londres, a 21 de Outubro de 2008.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Sete reflexões sobre a actual crise

Por João Bernardo

Contrariamente ao que é hábito afirmar na esquerda, tenho defendido desde há bastantes anos a inutilidade de proceder a uma teoria das crises no capitalismo. Cada crise é específica e resulta do facto de o sistema económico, com o agravamento de certas contradições, não conseguir dar uma resposta a obstáculos que noutras circunstâncias seriam facilmente superados. Tudo depende, então, de saber quais as contradições que se agravaram, e este diagnóstico muda de uma crise para outra.

Além disso, as crises sectoriais são frequentemente confundidas com crises globais ou, pior ainda, o funcionamento cíclico da economia é confundido com uma crise. Na verdade, a extrema-esquerda revela nestas ocasiões a sua fragilidade fundamental, esperando que se consiga, graças à crise do capital, o que não se tem obtido pela força própria do proletariado. As luminárias da revolução ainda estão sem decidir se o capital se há-de destruir a ele mesmo ou se há-de ser a classe trabalhadora a destruí-lo. Enquanto andar nesta indecisão, a extrema-esquerda nunca terá uma estratégia própria.

Na minha opinião, a actual crise resulta da conjugação de vários processos.

1) Um dos elementos da actual crise é o declínio dos Estados Unidos como potência económica. Este declínio manifesta-se de maneira flagrante no Iraque, onde os mecanismos estritamente económicos do imperialismo foram substituídos pelos mecanismos bélicos. Compare-se com a actuação dos capitalistas chineses, tanto privados como de Estado, que nos últimos anos têm conseguido uma tão grande quanto discreta penetração em África apenas pelo uso das armas económicas. O facto de os Estados Unidos não terem conseguido fazê-lo no Iraque é sintoma de uma decadência muito profunda.

Não disponho aqui de espaço para delinear, mesmo sinteticamente, os principais traços do declínio económico dos Estados Unidos, mas um dado parece-me bastante eloquente, ao sabermos que, em percentagem do Produto Interno Bruto, os investimentos norte-americanos em infra-estruturas materiais de comunicação e transporte atingem hoje menos de metade (2,4%) dos verificados na União Europeia (5%). Nos Estados Unidos não está a ocorrer apenas uma crise financeira, mas verificam-se problemas que afectam o âmago do processo produtivo.
2) Em íntima relação com o que acabei de apontar, outro dos elementos da crise é o reequilíbrio das potências mundiais. Habitualmente, entre 2/3 e 3/4 dos investimentos externos directos, que aqui se podem definir de maneira simplificada como os investimentos característicos das firmas transnacionais, têm circulado entre três pólos: a Europa, o conjunto Estados Unidos e Canadá, e o Japão. Contrariamente a uma convicção arreigada, as firmas transnacionais não exploram preferencialmente mão-de-obra barata e sim mão-de-obra qualificada, porque é ela a mais produtiva. O que os investimentos transnacionais procuram são as regiões de maior produtividade, onde a economia é desenvolvida e a força de trabalho é sofisticada. Fora daqueles três grandes pólos, o resto dos investimentos externos directos dirige-se sobretudo para a China, a Índia e o Brasil. A China já se afirmou como uma nova potência económica e o Brasil e a Índia estão em vias de sê-lo.

3) Este quadro torna-se muitíssimo mais complexo pelo facto de nas últimas décadas os países terem deixado de constituir verdadeiras unidades económicas e, portanto, os Estados nacionais e os respectivos governos terem perdido a primazia. O que caracteriza os fluxos transnacionais de capital é a capacidade de ultrapassarem todas e quaisquer barreiras alfandegárias, privando os governos das suas armas. Quem queira compreender o b-a-bá desta questão deve lembrar-se de que, quando a administração Reagan, preocupada com o carácter altamente concorrencial dos automóveis exportados pelo Japão, impôs um forte acréscimo das tarifas aduaneiras, as empresas japonesas pura e simplesmente investiram nos Estados Unidos e começaram a fabricar lá os seus automóveis, apressando mais ainda o declínio das companhias automobilísticas norte-americanas.

Com efeito, a maior parte do que as estatísticas continuam a apresentar como sendo fluxos comerciais entre economias nacionais ocorre no interior das firmas transnacionais. Já no final da década de 1980 o comércio entre sociedades e as suas filiais no estrangeiro era responsável por mais de metade do comércio total entre os países da OCDE. Nesta mesma data, 1/3 das exportações norte-americanas dirigia-se para empresas situadas no estrangeiro que eram propriedade de firmas sediadas nos Estados Unidos e outro 1/3 era constituído por bens que empresas estrangeiras com filiais nos Estados Unidos enviavam para os países onde tinham a sede; em sentido inverso, em 1986 cerca de 1/5 das importações dos Estados Unidos provinha de companhias de propriedade norte-americana localizadas no estrangeiro e cerca de 1/3 compunha-se de bens que companhias de propriedade estrangeira situadas nos Estados Unidos adquiriram aos países onde tinham a sede. Se adoptarmos uma visão global, e sempre no final da década de 1980, calcula-se que as vendas totais efectuadas pelas sociedades de propriedade norte-americana, tanto sedes como filiais, às sociedades de propriedade estrangeira teriam sido 5 vezes superiores ao valor convencionalmente atribuído às exportações dos Estados Unidos; ao mesmo tempo, as aquisições por sociedades estrangeiras teriam sido 3 vezes superiores às importações realizadas pelos Estados Unidos. E, nessa data, entre os 12 principais países da OCDE, 11 teriam vendido mais nos Estados Unidos através das filiais norte-americanas de transnacionais sediadas nesses países do que através de exportações. Numa situação em que só são tornadas públicas as estatísticas de base nacional, permanecendo confidenciais as estatísticas elaboradas pelas empresas, estes cálculos são muito difíceis e raros economistas ousam fazê-los, mas tudo indica que os valores verificados para a segunda metade da década de 1980 sejam hoje ainda mais elevados. Tanto assim que, quando agora se fala do carácter concorrencial dos produtos chineses é bom não esquecer que a maior parte do acréscimo das exportações chinesas se deve às filiais de firmas transnacionais implantadas na China.
4) Uma economia mundial em que as nações e os respectivos governos perderam a primazia e em que as companhias transnacionais são geridas por uma rede de pólos interligados e sempre mutáveis não pode mais depender das moedas nacionais.

Em 1970, enquanto as instituições oficiais norte-americanas dispunham no estrangeiro de cerca de 24 milhares de milhões de dólares, os particulares dispunham já de aproximadamente 22 milhares de milhões, e o desequilíbrio continuou a agravar-se de então em diante. Isto significa que, à força de emitir a moeda mundial, a administração norte-americana acabara por perder o controlo sobre essa moeda. Foi este facto fundamental que ditou o desmantelamento dos acordos de Bretton Woods, reconhecido pelo Smithsonian Agreement no final de 1971, uma das datas mais importantes do longo processo de reorganização económica que continua ainda hoje por completar. É impossível os bancos centrais controlarem as moedas nacionais com o actual volume de transacções financeiras, que ultrapassa muito qualquer montante de reservas bancárias. Nenhum banco central pode sustentar a sua moeda se houver movimentos sistemáticos contra essa moeda.
5) É nesta perspectiva que devemos compreender a remodelação do crédito e dos instrumentos financeiros que tem ocorrido nos últimos anos. Fala-se agora muito de "capital especulativo", aparentemente ignorando, ou esquecendo, que esse era um dos conceitos típicos da extrema-direita fascista ou fascizante durante a década de 1930. A esquerda, com toda a candura, reproduz essa terminologia e, o que é pior, essas ideias. Não há contraposição entre produção e crédito. A função do crédito é agilizar a produção, e quando ela atinge a complexidade actual os mecanismos financeiros não podem igualmente deixar de ser muito complexos e diversificados. Numas circunstâncias em que o quadro nacional das economias foi ultrapassado e em que, de qualquer modo, a emissão da moeda clássica é perfeitamente insuficiente para as necessidades, os bancos e as demais instituições financeiras vêem-se a todo o momento obigados a criar novas formas de dinheiro bancário.

É claro que existem especuladores nos meios financeiros, mas eles existem sempre, tal como existem falsificadores na indústria. Não é por aí que podemos compreender o funcionamento dos mecanismos económicos. Seria bom que de vez em quando os marxistas seguissem o exemplo de Marx, que em O Capital procedeu à crítica do capitalismo não através das suas anomalias mas observando exclusivamente o seu funcionamento normal.
6) Os mecanismos de regulação económica estão a mostrar-se inadequados às necessidades actuais. Com o declínio das nações enquanto quadro económico e, portanto, o declínio dos governos nacionais, as instituições e os mecanismos interestatais ficaram também postos em causa. O grande capital transnacional ultrapassou tudo isto no seu desenvolvimento. Por outro lado, porém, as grandes companhias transnacionais, se se têm mostrado mais ou menos capazes de se regular a si mesmas, não parece que tenham conseguido regular o conjunto do sistema. A alternativa mais viável afigura-se-me ser a de uma nova conjugação entre as grandes empresas transnacionais e novos órgãos supranacionais saídos das instituições internacionais existentes. Tratar-se-ia de fazer à escala mundial o que a China faz já no âmbito da sua economia, conjugando o capitalismo de Estado e as grandes empresas privadas num único mecanismo de tomada de decisões, consagrado pela admissão dos capitalistas privados como membros de um Partido que continua, evidentemente, a chamar-se Comunista.

7) A grande diferença entre este hipotético sistema de regulação que aqui delineei, ou qualquer outro que se lhe assemelhe, e o keynesianismo implantado na sequência da segunda guerra mundial diz respeito à integração dos trabalhadores. No modelo keynesiano, tal como o aplicaram as social-democracias e as democracias-cristãs, a taxa de crescimento económico, o aumento da emissão monetária e a taxa de aumento dos salários resultavam de acordos triangulares estabelecidos entre as confederações patronais, os governos e as centrais sindicais. Porém, para que os sindicatos pudessem cumprir essa função de reguladores do mercado de trabalho era necessário que neles estivesse filiada uma boa percentagem da mão-de-obra. Ora, os sindicatos não mais se podem considerar representantes dos trabalhadores, numa situação em que as taxas de sindicalização caíram drasticamente.

Na Austrália, onde mais de 50% da força de trabalho estava sindicalizada na década de 1970, em 2001 a percentagem reduzia-se a 25%. A evolução foi praticamente idêntica no Reino Unido, passando de um pouco mais de 50% da população activa organizada nos sindicatos na segunda metade da década de 1970 para 30% em 2006. Também na Itália, onde em 1980 quase 50% dos trabalhadores estavam sindicalizados, agora a taxa é inferior a 40%. Nos Estados Unidos, 34% da força de trabalho estava sindicalizada em 1965 e só 12% em 2006. Na Alemanha a taxa de sindicalização manteve-se superior a 30% da força de trabalho até meados da década de 1990, mas em 2003 caíra para 20%. Finalmente, na França, onde os sindicatos organizavam 20% da população activa na década de 1970, em 2006 a taxa era inferior a 9%. São muito raros os países que escapam a esta tendência. Os sindicatos hoje não subsistem enquanto organizadores do mercado de trabalho, função que se tornaram incapazes de desempenhar, mas enquanto detentores de capital. São complexos e variados os mecanismos que têm permitido aos sindicatos apropriar-se, de direito ou de facto, de avultados pacotes de acções, e a questão extravasa os limites deste artigo. Basta aqui dizer que em 2003, dos 17 triliões de dólares a que montavam então os fundos de pensão e fundos mútuos activos em todo o mundo, a administração de 12 triliões ou tinha uma participação sindical directa ou um envolvimento de outros representantes dos assalariados.

Nestas circunstâncias, conseguirão os capitalistas controlar os trabalhadores só mediante a disciplina de empresa e o colossal sistema de fiscalização electrónica instalado fora das empresas? É a esta questão crucial que a luta de classes há-de responder nos próximos anos. Dela depende a evolução da crise e a maneira como será resolvida.

Outubro de 2008

domingo, 9 de novembro de 2008

MILTON SANTOS

Por Priscila Souza de Carvalho*

RESENHA DO LIVRO “POR UMA OUTRA GLOBALIZAÇÃO: do pensamento único a consciência universal” DE MILTON SANTOS.

A obra de Milton Santos “Por uma outra globalização do pensamento único à consciência universal” é a mostra de um grande pensador e de muito trabalho, pois a obra reuni todo o trabalho existente para pensar o atual período histórico que vive a humanidade de forma critica, trazendo a realidade todos os mitos e verdades e apontando o movimento dialético deste mesmo processo que pode mudar o sentido da vida global . Assim pretende compreender os mecanismos, limites e força para apresentar esperança de que não estamos no fim da história.

Falamos aqui afinal do processo de globalização que compreende a internacionalização do capitalismo, que em busca de uma percepção critica da produção deste processo analisa em três momentos: a globalização como fábula, a globalização como perversidade, e como pode ser outra globalização.

A fábula corresponde à fala de que participamos de uma aldeia global onde temos todas as informações instantaneamente de qualquer lugar, não existe mais distância, as fronteiras não têm porque de existirem, estamos todos conectados sobre um mesmo tempo e espaço e tudo isso graças a um mercado global capaz de homogeneizar os vários lugares não é necessário o Estado.

A perversidade da globalização é a desmistificação de todo mito em torno do que é produzido pelo capital, um discurso que busca legitimar e dar liberdade para seus fins, acumular capital, e utiliza qualquer meio que justifica pelo fim.

Apresentamos aqui a tese central de Milton Santos demonstra como o carro chefe que conduz e fundamenta a globalização é a técnica da informação, da ideologia, que apresenta idéias que nos torne adaptados a monetarização da vida, que naturaliza por meio de seus mitos toda a perversidade que produz, toda pobreza, fome, desemprego violência, salários baixos, mortalidade infantil, educação de baixa ou nenhuma qualidade, egoísmo, cinismo, corrupção.

Despotismo da informação utilizada apensa por alguns atores como as empresas e alguns Estados, que só passam informação de acordo com seu interesse particular, afinal existe uma competitividade e mais importante do que a verdade é convencer. Não existe mais a noção de bem publico, solidariedade. O que se quer produzir é antes de tudo consumidores, antes mesmo da mercadoria, todos tem a liberdade de consumir como se isso significasse cidadania ou democracia política. O que temos é uma democracia de mercado.

O discurso está alicerçado na ciência, na racionalidade, e antecede toda ação humana, a técnica essencial a produção material da vida ao ser dominada pela ideologia, repassa-se a todos os objetos e assim alcança estado real, as idéias, os homens, comportamento, relações, lugares, a ideologia se transforma em situação atinge assim também a ciências sendo de ordem política. Destaque para o papel do intelectual e da política, que rompa com o despotismo e totalitarismo do discurso atual e construa de fato conhecimento não em função de um mercado e seu valor mesquinho, individualista e corrupto, mais conhecimento que sirva ao espaço vivido e que tome o homem todos igualmente como o centro de sua preocupação e não o dinheiro.

Mediante o discurso de que as empresas trazem o desenvolvimento, a modernização, e os empregos tão necessário, idéia que dá as empresas poder de agir sobre os lugares e transformá-los segundo seu interesse, modificam as relações locais por projetos que visam a economia global agindo pontualmente em espaço de forma organizacional, impõe assim verticalmente de cima para baixo sobre os espaços horizontais sem cogitar o interesse comum, a convivência e solidariedade, dos espaços de vivência, acaba, por conseguinte a atravessar a soberania e particularidades de cada espaço banal.

Apesar do mito de inevitabilidade de inserção deste processo perverso, as contradições vão se colocando mais claras, a produção de pobreza por esta mesma lógica, a de violência estrutural - provocada pela competitividade pelo dinheiro que vai se impondo e formando a consciência do individualismo, vão sendo percebidos pelos espaços horizontais, os quais se encontram as empresas mais antes de tudo as instituições do Estado e os homens, os trabalhadores - o espaço banal se torna assim um espaço de resistência, em que aqueles afetados pelo processo de globalização atual criam novas racionalidades para sobreviverem.

Entramos aqui na lógica que Milton Santos define como endógeno gerado pelos excluídos, o outro é o exógeno gerado pelas empresas. Todos estes processos encontram centralizados nos centros urbanos em que se concentram todos os atores do processo de globalização, e daí saem os “mandos e desmandos” endógenos e exógenos.

A agricultura quase não tem como resistir ao processo de monetarização da propriedade da terra e da técnica, foram praticamente tomados pelas empresas e o Estado não consegue nenhum controle, pois a alta produção exigida para atingir produtividade está completamente dependente da ciência e da assistência técnica.

As cidades ponto de vivencia dos excluídos da competitividade, da acumulação de riqueza, da informação da técnica de produção, aloca a nova consciência que tem como centralidade não o dinheiro, mais o homem. Excluídas assim de serem atores do processo de globalização, na relação com as pessoas, na relação de vizinhança, vão produzindo técnicas de sobrevivência que produzem uma cultura completamente diversa e rica, contendo todas as particularidades e necessidades coletivas, construídas em solidariedade, que busca a cidadania, uma nova consciência, não só, como demonstra Milton, possível como necessária. Entende não como negativa a universalização de técnicas e tecnologias e redes, a ideologia o interesse político a que serve é onde se encontra o problema, é necessário criar um novo discurso sair da lógica monetária e entrar na lógica mais humana, que dê “novo sentido a existência de cada pessoa” (pag. 174)

*Priscila Souza de Carvalho é estudante de Ciências Sociais na Universidade Federal de Uberlândia e diretora do DCE-UFU.


BIBLIOGRAFIA

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2000.

sábado, 8 de novembro de 2008

Quando o palco vira instrumento de resistência

BRASIL DE FATO 04/11/2008

Encontro de teatro comunitário reúne representantes de oito países latino-americanos. Atividade é organizada há 13 anos pela Corporação Cultural Nuestra Gente, em Medellín

Encontro de teatro comunitário reúne representantes de oito países latino-americanos. Atividade é organizada há 13 anos pela Corporação Cultural Nuestra Gente, em Medellín

Cristiane Gomes de Medellín, Colômbia

Música, ritmos, cores e alegria inundaram as ruas da comunidade do bairro de Santa Cruz, periferia da cidade de Medellín, Colômbia, no desfile inaugural que abriu oficialmente o 13º Encontro Nacional Comunitário de Teatro Jovem, neste domingo (2). A comunidade do bairro se uniu a artistas e grupos de teatro, dança, música e circo para começar com uma grande festa, a atividade que já é tradicional não apenas em Medellín, mas em todo país.

Mais de duas mil pessoas participaram do cortejo. Entre eles, artistas, crianças, moradores da comunidade e convidados. “As pessoas do bairro esperam com ansiedade o cortejo de abertura do encontro. É assim todos os anos. Mais do que a alegria, a música, os grupos que participam, o cortejo representa a população de Santa Cruz que sempre nos acompanha com muita felicidade e carinho”, conta Adriana Rendón Rios, uma das integrantes da Corporação Cultural Nuestra Gente, que organiza o Encontro.

Dia 1º de novembro, houve a primeira apresentação teatral do encontro com o grupo Luz de Luna, de Bogotá, com a obra Aterra. A peça trata da dramática questão dos chamados desplazados (famílias camponesas que são obrigadas a deixar suas terras por conta da guerra entre paramilitares e guerrilha). A apresentação também integrou a programação da Mostra Desterro e Reparação, organizada pelo Museu de Antioquia.

Resistência pacífica

Já o desfile dos grupos aconteceu na tarde de domingo, (2) e seguiu pela noite, com shows de grupos de música colombiana, como a cumbia, o porro e, claro, a salsa. “Este encontro é muito significativo para Medellín e toda a Colômbia, porque comprova como a arte pode se converter em um significativo espaço de convivência e resistência pacífica”, afirmou o secretário de cultura cidadã de Medellín, Jorge Melguizo.

Além das apresentações de grupos de teatro comunitário de todo o país e do grupo Compañia Gestual de Chile, o encontro conta a participação de representantes de diversos grupos e organizações latino-americanas. Da Argentina, Guillermo Rodoni, secretário para América Latina da Associação Internacional de Teatro de Arte (AITA) e Adhemar Bianchi, diretor do grupo Catalinas Sur; do Brasil, Marcelo Palmares um dos diretores do grupo Pombas Urbanas; de Bolívia, Iván Nogales diretor da Comunidade de Produtores de Arte; do Chile, Vítor Soto, diretor da Escola de Atores Cerro Navia; de Cuba, Rafael Gonzales, diretor do grupo Teatro Escambray e Bárbara Rivero, do Conselho Nacional de Teatro; do México Pablo Moreno, diretor do Teatro Carpa Carlos Ancira; de Peru, Roberto de la Puente, do Teatro Vichama; e de El Salvador Julio Cesar Monje, diretor do Tiempos Nuevos Teatro.

Todos os convidados internacionais irão compartilhar suas experiências com o teatro em comunidade e com políticas públicas em seus países para o teatro. As discussões tiveram início ontem, terça-feira (3), quando teve início o 8º Seminário Nacional de Teatro, Pedagogia e Comunidade que, neste ano promove o Fórum Latino-americano de Políticas Teatrais. “A idéia é que este seja um espaço de diálogo entre artistas que trabalham com, para e em comunidades. Juntos iremos refletir sobre nossas ações como forma de estimular o trabalho que cada um desenvolve em sua região, seja ela na Colômbia, Brasil, Cuba, Argentina”, conta Jorge Blandón, diretor geral e um dos criadores do Nuestra Gente.

Diversas oficinas de atuação, direção e produção teatral serão realizadas durante toda a semana do Encontro. As atividades são abertas ao público em geral, mas a prioridade em participação é para os jovens que estão envolvidos nos processos de teatro comunitário desenvolvidos no bairro.

Arte como alternativa

A Corporação Cultural Nuestra Gente foi criada há 21 anos por um grupo de jovens moradores do bairro de Santa Cruz, região periférica de Medellín. Inconformados com a violência que recrudescia as relações comunitárias, assassinava a juventude e deixava a população aterrorizada, estes jovens começaram a fazer teatro pelas ruas do bairro.

Nesta época, Medellín vivia o auge do domínio do narcotráfico nos morros da cidade, dominados pela ação do mundialmente conhecido Pablo Escobar. Através da arte, este grupo de jovens tinham como desejo principal levar outras possibilidades de vida não somente à juventude, mas à toda a comunidade de Santa Cruz.

Com o passar dos anos, o trabalho foi se fortalecendo. Então, a comunidade se uniu em torno do trabalho e passou a apoiar a ação teatral que começava a ser desenvolvida. O grupo conquistou sua sede, a chamada Casa Amarela, onde são realizadas aulas de teatro, música, dança, títeres (teatro de bonecos). Hoje, cerca de 8 grupos formados por jovens atores e atrizes são ligados ao Nuestra Gente.

Quando o grupo organizou a primeira edição do Encontro Nacional, em 1995, Medellín vivia um período dramático. A morte de Pablo Escobar dois anos antes deu início a uma intensa onda de violência. Distintos grupos de narcotraficantes começaram uma guerra nos morros da cidade para disputar o domínio territorial que antes Escobar tinha sob controle. Mesmo assim, em um árduo contexto, os artistas do Nuestra Gente decidiram criar um espaço em que a solidariedade e o compartilhar tomariam o lugar da morte e do medo.

Nos primeiros anos em que o encontro aconteceu, os grupos davam uma trégua em sua guerra para que a atividade acontecesse sem problemas. Apesar de não compreenderem muito a ação daquela juventude que queria fazer teatro, os narcotraficantes respeitavam seu trabalho.

De lá pra cá, algumas coisas mudaram. A situação política na Colômbia segue complexa. A ação dos paramilitares e das guerrilhas continuam expulsando milhares de pessoas a cada dia de suas terras. O número de lideranças sociais mortas e desaparecidas também cresce. Em cidades como Medellín, a violência nos morros está mais controlada, e, na comunidade de Santa Cruz, o trabalho do Nuestra Gente se mostra como uma resistência pacífica à violência. “A transformação cultural e social que vemos hoje em Santa Cruz só foi possível graças aos moradores e moradoras do bairro que fez com que fosse possível o trabalho na comunidade”, conta Jorge Blandón.