Por Emir Sader
Blog do Emir - Carta Maior
Embora condicionada por dois novos fatores externos –a recessão econômica e o novo governo dos EUA – a evolução da América Latina depende, sobretudo, das suas próprias formas de reagir à crise e, principalmente, se o fizer fortalecendo os processos de integração regional e a construção de alternativas ao neoliberalismo.
2009 será, para a América Latina, assim como para o mundo inteiro, dominado pelos efeitos da crise econômica internacional. Desta vez nascida no centro do capitalismo, terá efeitos diferenciados nos países do continente, conforme a capacidade de resistência de cada país, o que, por sua vez, está diretamente vinculada às políticas adotadas por cada país nos anos de crescimento, prévios à crise.
Ao mesmo tempo, uma série de eleições podem consolidar e até mesmo estender o quadro político dominado por governos progressistas ou afetá-lo em direções novas. Bolívia, Equador, El Salvador, Chile, Panamá, Honduras, Uruguai – terão eleições presidenciais, enquanto Argentina, México, terão eleições parlamentares, e a Venezuela terá consulta de reforma constitucional. Provavelmente Evo Morales, Rafael Correa, Hugo Chavez, sairão vitoriosos dos testes eleitorais, enquanto a lista de governos progressistas deve se estender com a provável vitória da Frente Farabundo Marti em El Salvador. As eleições no Uruguai e no Chile têm um quadro mais aberto, no caso uruguaio mais pela disputa interna na Frente Ampla sobre quem será o candidato presidencial e suas possibilidades de unificar a Frente e conseguir granjear o apoio que tem o governo de Tabaré Vasquez. No caso chileno, a direita neopinochetista aparece como favorita, mas a decisão de voltar a ter um candidato democrata-cristão pode angariar votos do centro de dar um novo mandato à debilitada aliança com os socialistas, embora com um tom ainda mais moderado, caso cheguem a manter-se no governo.
As eleições parlamentares serão um teste para a capacidade do governo Kirchner de se recuperar do enfraquecimento sofrido com a crise agrária do primeiro ano do governo de Cristina. De qualquer forma, como nos outros países da região, as alternativas se situam à direita no espectro político, sem que nenhuma força mais radical tenha crescido. No México, o PRI deve capitalizar o enfraquecido governo de Calderón, diante da crise interna do PRD.
No seu conjunto, a crise não chegará a afetar os resultados eleitorais da esquerda, ainda que o apoio interno de governos que fundamentaram sua legitimidade em políticas sociais, possa diminuir.
A crise recessiva chega à América Latina interrompendo anos de expansão econômica, com alguns países em melhores condições para enfrentar seus efeitos, por ter participado dos processos de integração regional, ter intensificado o comércio regional, ter diversificado seus mercados externos e ter desenvolvido significativamente seus mercados internos. Nesta situação estão Argentina, Brasil, Bolívia, Equador, Uruguai, Venezuela. No outro pólo estão os que centraram suas políticas no livre comércio e em relações privilegiadas com os mercados do norte do mundo – de que o México é o caso paradigmático, tornando-se a principal vítima da crise induzida do norte para o sul do mundo.
Pode-se prever efeitos relativamente diferenciados dentro de cada grupo. A direita aposta na recessão e, com ela, no retorno dos seus temas preferidos – ajuste fiscal, aumento do desemprego, etc. Os países que dependem mais das exportações e dos preços das commodities tenderão a sofrer impactos maiores – como é o caso das exportações de petróleo, de gás, de soja -, no entanto, vale para todos a necessidade de intensificar o poder aquisitivo do mercado interno, como substituto relativo, tendo que enfrentar o desafio de não impor políticas restritivas no plano salarial e do nível de emprego, que só aumentariam o efeito da crise internacional.
Porém, a variável central sobre a evolução da situação latinoamericana está na capacidade de avanços conjuntos dos governos a partir dos processos de integração. Atualmente as respostas tem se dado de forma separada – Brasil, Argentina, Uruguai, cada um com sua reação, a Alba, por outro. A proposta do Banco do Sul, por exemplo, que deveria ser substancialmente fortalecida, junto com seu desdobramento natural – a moeda única -, ao invés de estar entre as preocupações centrais, não tem avançado na conjuntura atual. Falta uma grande reunião da Unausul sobre a crise e as respostas conjuntas da região a ela, para que a crise seja, mais do que risco, oportunidade aproveitada para avançar na superação do esgotado modelo neoliberal.
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