quinta-feira, 30 de abril de 2009

1º de MAIO, dia de luta!

Por Waldemar Rossi
CORREIO DA CIDADANIA

No próximo dia 1º de maio, uma sexta-feira, os trabalhadores do mundo inteiro (exceto nos Estados Unidos) estarão celebrando 123 anos do massacre de Chicago, quando milhares de trabalhadores, pacificamente, reivindicavam a jornada de trabalho de 8 horas e condições específicas para o trabalho das mulheres e dos menores. A polícia, a mando do governador e a serviço dos patrões, reprimiu a manifestação com armas, assassinando vários trabalhadores e prendendo oito das suas lideranças. Um júri, encomendado e corrompido, julgou as lideranças como responsáveis pelas violências, condenando cinco delas à morte pelo enforcamento em praça pública e três condenados a vários anos de prisão.

O falso julgamento gerou uma extraordinária reação popular pelo mundo capitalista da época (Estados Unidos e Europa), o que obrigou ao novo governo daquele estado a considerar nulo o julgamento, determinando a realização de outro júri, agora com novos jurados escolhidos dentre o povo. Como era de se esperar de um julgamento correto, os trabalhadores foram considerados inocentes, ficando a responsabilidade pelas violências para o próprio estado e para os patrões, seus mandantes. Mas cinco operários já estavam mortos.

Foi assim que um congresso internacional dos trabalhadores decidiu marcar o dia 1º de Maio como o "Dia dos trabalhadores, dia de luto e de lutas". Uma justa homenagem àqueles que deram suas vidas em defesa de melhor qualidade de vida para a classe trabalhadora internacional.

As lutas pela conquista das oito horas diárias de trabalho foram muito duras. Sua conquista foi se dando aos poucos, de acordo com a capacidade de enfrentamento dos trabalhadores em cada país. Ainda assim, essa luta gerou outros assassinatos de homens e mulheres que buscavam um pouco menos de injustiça no trabalho. No Brasil ela veio com o governo de Getúlio Vargas. Porém, em nosso país, essa jornada, de fato, nunca foi respeitada, pois os patrões, ávidos por grandes lucros, sempre exigiram horas de trabalhos extras, prolongando a jornada real dos seus empregados.

Eis porque sindicatos comprometidos com a luta por justiça, unidos a vários movimentos populares e às pastorais sociais das Igrejas, vêm se unindo para garantir a continuidade dessa celebração com seu caráter de classe. São sindicatos e movimentos que repudiam as "comemorações" com shows e sorteios de carros e de casas, tudo pago pelas empresas que exploram o trabalho de seus funcionários. São movimentos e sindicatos que repudiam as atividades desse dia com caráter de conciliação com o empresariado, em conluio com o capital explorador. São shows e sorteios que visam impedir o desenvolvimento da consciência crítica dos trabalhadores, shows que visam apagar a memória das lutas das classes trabalhadoras, como vêm fazendo a Força Sindical – com mega-shows e sorteios - e a CUT com seus shows.

O 1º de Maio classista, em São Paulo, vem acontecendo na Praça da Sé, tradicional espaço de resistência dos trabalhadores paulistanos, tradicional espaço de resistência durante os 20 anos da ditadura imposta ao povo brasileiro pelo golpe militar de 1964.

Neste ano queremos reverenciar a memória de Olavo Hansem, assassinado em 1970; de Luiz Hirata, assassinado em 1971; de Manoel Fiel Filho, assassinado em 1976; e de Santo Dais da Silva, assassinado durante a greve dos metalúrgicos de São Paulo, de 1979, pela polícia militar de Paulo Maluf. Na memória desses quatro operários iremos prestar nossa homenagem aos demais operários mortos pela ditadura militar.

Mas o 1º de Maio deste ano será marcado principalmente pela resistência ao ataque que o capital vem desfechando sobre os direitos dos trabalhadores. Será um protesto e a determinação de resistir à tentativa do governo em "flexibilizar" nossos direitos, favorecendo as empresas que se dizem em crise e que se aproveitam dela para aumentar sua exploração.

Você, leitor do Correio da Cidadania, de São Paulo e arredores, você que é também um lutador e defensor da justiça social, participe desse ato, reforce nosso protesto e convença seus amigos a participarem também.

PROGRAMÇÃO DO 1º DE MAIO CLASSITA:

09:00 horas: Missa na Catedral da Sé;

10:30 horas: ato público na Praça da Sé

12:30 horas, encerramento do ato classista

Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Rio de Janeiro

1º de Maio:

Os trabalhadores não pagarão pela crise!

1º de maio não é dia de descanso. É dia de luta. Assim como aqueles que, em 1886, morreram lutando pela redução da jornada de trabalho para 8 horas, nesse dia, no mundo inteiro, lutamos contra patrões e governos que atacam os trabalhadores. Por melhores condições de vida e de trabalho. Por uma sociedade justa, livre e igualitária. Por um mundo em que a vida e os recursos naturais não sejam mercadorias. Em que os povos e o planeta não sejam destruídos em nome dos lucros.

Neste momento, em que o capitalismo atravessa uma grave crise, os patrões e governos, com o apoio dos jornais e da televisão, tentam enganar o povo e explorar ainda mais os trabalhadores. Bancos e empresas se apoderam do dinheiro público que deveria ir para a saúde, educação e moradia. A crise serve como desculpa para demissões massivas, corte de direitos, redução de salários, destruição ainda maior da natureza. Com ela, avança ainda mais a criminalização dos pobres e dos que lutam e resistem.

O governo Lula enche os bolsos dos empresários enquanto corta gastos sociais e suspende concursos públicos e reajustes nos salários. Sérgio Cabral e Eduardo Paes privatizam os serviços públicos e tratam o povo trabalhador como criminoso. Reprimem com violência os que trabalham como ambulantes e os moradores de rua, despejam famílias, derrubam suas casas e assassinam o povo pobre nas comunidades.

Todos juntos – trabalhadores formais, informais, desempregados, aposentados, jovens, homens e mulheres - devemos lutar, não para resolver a crise dos patrões, mas para garantir nossa sobrevivência digna. Os trabalhadores não pagarão pela crise!

- Por emprego, salário digno, moradia, terra e direitos sociais.

- Pela redução da jornada de trabalho sem redução de salários.

- Pela estatização dos recursos naturais, sob controle dos trabalhadores e suas famílias.

- Pela estatização, sob controle dos trabalhadores, do sistema financeiro, dos serviços urbanos e das empresas que exploram nossos recursos naturais.

- Contra o repasse de recursos públicos para os capitalistas e transnacionais e contra o pagamento da dívida pública.

- Contra a criminalização dos pobres e dos movimentos sociais.

- Por saúde, transporte e educação pública de qualidade.


TKCSA: Símbolo das atrocidades do capitalismo

Nosso ato de luta no 1º de Maio será em Santa Cruz. Os trabalhadores dessa região vêm sendo duramente afetados pela instalação da Siderúrgica do Atlântico (TKCSA), parceria entre Thyssen Krupp e Vale.

O pólo siderúrgico incluirá a instalação de empresas, usinas, portos, como parte da Iniciativa para Integração da Infra-Estrutura Regional da América Latina – IIRSA. Esses empreendimentos, cujos supostos benefícios são alardeados pela imprensa, recebem apoio econômico e político de todas as esferas de governo, com isenções fiscais e financiamento direto através do BNDES. É o dinheiro do povo que está sendo aplicado lá. Mas o projeto, na verdade, é um triste símbolo das atrocidades que o capitalismo comete contra a natureza e os trabalhadores.

A TKCSA coloca em risco a população, os trabalhadores, o ecossistema e o enorme potencial econômico local. A empresa desrespeita os mais elementares direitos constitucionais e humanos, afetando:

A NATUREZA: O canteiro de obras da TKCSA localiza-se numa Área de Preservação Ambiental (APA) protegida pela União, dentro de uma Reserva Arqueológica e Biológica em área costeira. Sem licença ambiental do IBAMA, e mesmo sendo embargadas e interditadas pelos órgãos de fiscalização, as obras seguem, envolvidas em inúmeras irregularidades e destruição da fauna e flora local.

O TRABALHO: Para reduzir custos e a resistência dos trabalhadores, a TKCSA contrata imigrantes, principalmente chineses e nordestinos. As promessas de geração de empregos maciça para a população local jamais se concretizaram. Há contratações irregulares e precárias. Os trabalhadores enfrentam péssimas condições de vida e de trabalho e sofrem ameaças da milícia da região, que atua em acordo com os seguranças da empresa. Trabalhadores imigrantes que morrem nos canteiros de obras são lançados no rio ou na baía.

A POPULAÇÃO LOCAL: A TKCSA traz desemprego e miséria às 8.075 famílias de pescadores artesanais e maricultores da região. Com as obras e a contaminação das águas, esgotam-se os recursos pesqueiros. Os portos aumentarão as áreas de exclusão de pesca, afetando duramente os pescadores mais pobres. O complexo siderúrgico trará sérios riscos à saúde, com aumento da poluição e exposição constante a agentes químicos que ocasionam desde doenças respiratórias a certos tipos de câncer.

Fora TKCSA/VALE e todas as empresas que atacam a vida!


Todos ao ato unificado do 1º de maio de luta, em Santa Cruz!

Concentração: 9h, em frente ao Hospital Pedro II – perto da estação de trem – Santa Cruz

Informações: pmsociais@gmail.com (http://pmsrj.blogspot.com/) ou forumbaiasepetiba@ig.com.br

ÔNIBUS:

- no Centro do Rio, às 7h30min, na Candelária
- em Niterói, às 7h em Jurujuba e às 7h30min no DCE/UFF


Organização: ADUFF, ADUFRJ, ANDES, Assembléia Popular, Associação dos Aquicultores e Pescadores da Pedra de Guaratiba, Associação dos Pescadores do Canto do Rio, CMP, Comitê Popular de Mulheres, Conselho Popular, Consulta Popular, Curso de Marxismo, DCE/UERJ, DCE/UFF, DCE/UFRJ, FAFERJ, FIST, Fórum de Meio Ambiente dos Trabalhadores, INTERSINDICAL, LS, Mandatos do Dep. Est. Marcelo Freixo, do Dep. Fed. Chico Alencar e do Ver. Eliomar Coelho/PSOL, MNLM, MTD, MST, NEURB, Núcleo de Lutas Urbanas/PSOL, Núcleo Socialista de Campo Grande, PACS, PCB, PSOL, SEPE/RJ, Sindipetro/RJ

Plenária dos Movimentos Sociais – pmsociais@gmail.com http://pmsrj.blogspot.com/

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ATO CONTRA O AI-5 DIGITAL


Por Comitê Organizador

ATO CONTRA O AI-5 DIGITAL

A Internet é uma rede de comunicação aberta e livre. Nela, podemos criar
conteúdos, formatos e tecnologias sem a necessidade de autorização de
nenhum governo ou corporação. A Internet democratizou o acesso a
informação e tem assegurado práticas colaborativas extremamente
importantes para a diversidade cultural. A Internet é a maior expressão
da era da informação.

A Internet reduziu as barreiras de entrada para se comunicar, para se
disseminar mensagens. E isto incomoda grandes grupos econômicos e de
intermediários da cultura. Por isso, se juntam para retirar da Internet
as possibilidades de livre criação e de compartilhamento de bens
culturais de de conhecimento.

Um projeto de lei do governo conservador de Sarkozi tentou bloquear as
redes P2P na França e tornar suspeitos de prática criminosa todos os
seus usuários. O projeto foi derrotado.

No Brasil, um projeto substitutivo sobre crimes na Internet aprovado e
defendido pelo Senador Azeredo está para ser votado na Câmara de
Deputados. Seu objetivo é criminalizar práticas cotidianas na Internet,
tornar suspeitas as redes P2P, impedir a existência de redes abertas,
reforçar o DRM que impedirá o livre uso de aparelhos digitais. Entre
outros absurdos, o projeto quer transformar os provedores de acesso em
uma espécie de polícia privada. O projeto coloca em risco a privacidade
dos internautas e, se aprovado, elevará o já elavado custo de
comunicação no Brasil.

Gostaríamos de convidá-lo a participar do ato público que será realizado
no dia 14 de maio, às 19h30, em defesa da

LIBERDADE NA INTERNET
CONTRA O VIGILANTISMO NA COMUNICAÇÃO EM REDE
CONTRA O PROJETO DE LEI SUBSTITUTIVO DO SENADOR AZEREDO

O Ato será na Assembléia Legislativa de São Paulo e será transmitido em
streaming para todo o país pela web.

PLENÁRIO FRANCO MONTORO
ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DE SÃO PAULO
AV PEDRO ALVARES CABRAL S/N - IBIRAPUERA

O Ato também terá cobertura em tempo real pelo Twitter e pelo Facebook.

Contamos com a sua presença.

[SP] 1º DE MAIO, DIA DE LUTA! - Todos à praça da Sé!

Nova estratégia para a classe operária


Plínio Arruda Sampaio

Fonte: Blog do IZB

Este 1° de maio encontra a classe trabalhadora sob intenso ataque do capital. Talvez seja este o mais poderoso de todos os ataques que foram desferidos contra ela desde que se comemora neste país o Dia do Trabalhador.

Infelizmente, a classe trabalhadora não está unida para enfrentar a investida. A divisão, como é óbvio, desestimula o comparecimento às manifestações de massa. Há centrais que, para “encher a praça” e ostentar uma força que não têm, chegam ao cúmulo de sortear automóveis e apartamentos, para quem estiver presente. Uma vergonha!

Felizmente, porém, há ainda os que perseveram na linha correta. Não são muitos e nem conseguem arrastar multidões, mas são os que estão fazendo história: Pastoral Operária, Conlutas, Intersindical. Quem for à manifestação que essas entidades estão promovendo ouvirá discursos verdadeiros.

Discursos que diagnosticarão corretamente o dilema da classe operária e que, sobretudo, apontarão a estratégia adequada à nova forma de luta de classes.Não mostrarão um caminho atapetado. Pelo contrário, dirão que é um caminho ainda mais cheio de pedras e percalços do que no passado. Mas é o único que poderá significar vitória.

Qual é esse caminho? É o da ruptura classista e socialista, na mesma linha da luta dos heróicos operários norte americanos, fuzilados pela polícia da burguesia nas manifestações de maio de 1896, em Chicago.

Quando se fala em ruptura socialista, vem logo a objeção: “mas como pensar em ruptura se não conseguimos sequer encher as praças em dia tão significativo?”

A resposta é: as condições objetivas para romper com o capitalismo estão dadas no Brasil. Faltam as condições subjetivas, ou seja, faltam a consciência e a organização da classe trabalhadora. O trabalho de construir essa consciência e essa organização já não pode mais progredir, como no tempo em que a CUT era a CUT, com a estratégia de reformas na estrutura do capitalismo diante de uma burguesia mundial e nacional totalmente trancada para qualquer proposta de reforma que signifique respeito aos direitos dos trabalhadores.

Nas comemorações da Pastoral Operária, além da participação no comício, há uma celebração eucarística na Catedral da Sé. O que se espera dessa missa é que ela não seja apenas o cumprimento de uma tradição esvaziada, mas um gesto claro e corajoso de que a “opção preferencial pelos pobres” – consigna que marca a virada evangélica da hierarquia católica na América Latina – não tenha sido sufocada por uma Igreja de pompas, autoritarismo e devoção intimista, muito distante da mensagem salvadora do Cristo.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Correa é reeleito com ampla vantagem no Equador

BRASIL DE FATO

Com 70% dos votos apurados, Rafael Correa comemora sua reeleição com mais de 50% os votos contra 28% do seu principal opositor, o ex-presidente Lucio Gutiérrez

O presidente equatoriano, Rafael Correa, deve ser o vencedor das eleições gerais realizadas neste domingo (26) com pouco mais de 51% dos votos, segundo dados oficiais divulgados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).

Com cerca de 70% dos votos apurados, o presidente tem ampla vantagem sobre os demais adversários. Seus dois principais oponentes, Lucio Gutiérrez e Álvaro Noboa, obtiveram 28% e 11% dos votos, respectivamente. Os outros cinco candidatos inscritos na disputa obtiveram cada um menos de 2% dos votos.

Por sua vitória, Correa recebeu saudações dos presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, da Bolívia, Evo Morales e do Chile, Michelle Bachellet.

Chávez ressaltou, através de comunicado, “a importância do processo popular constituinte que tem permitido ao Equador viver uma etapa de refundação democrática pela via pacífica, sobre a base de uma nova Constituição, escrita e aprovada pelos equatorianos”.

Rafael Correa, um economista de 46 anos, concluiria sua gestão em 2011, mas a nova Constituição do país, aprovada em setembro de 2008 em um referendo, convocou as novas eleições.

O pleito foi acompanhado por 510 observadores nacionais e estrangeiros, o processo foi o mais complexo da história desta nação andina.

Pouco mais de 10 milhões de eleitores foram convocados às urnas para eleger ao presidente e vicepresidente do Equador, 118 congressistas, 46 prefeitos e viceprefeitos e 1.581 vereadores.

Compromisso

Em coletiva de imprensa realizada depois dos primeiros resultados extra-oficiais, que o indicaram como ganhador, Correa reiterou que a luta é para conseguir uma pátria para todos, uma pátria igualitária que tem se consolidado nos últimos dois anos de compromisso social.

“Estamos aqui para os pobres. Nossa opção preferencial é pelos mais pobres e nosso compromisso é erradicar a miséria e deixar o país mais justo e mais equitativo”, enfatizou

O presidente reeleito também destacou que o principal compromisso deste novo período presidencial é mudar o mais rápido possível a história do país e oferecer plenas garantias de educação, moradia, emprego, saúde, transporte e melhorar os níveis de vida dos cidadãos equatorianos.

Para Correa, uma das lutas mais importantes a vencer durante a gestão 2009-2013 é pelos 3 milhões de imigrantes, espalhados por todo continente, aos quais garantiu: “Nosso compromisso é para que possam voltar e encontrar a felicidade que foram buscar em outras partes do mundo”.

América Latina

Rafael Correa afirmou nesta segunda-feira (27) que, em relação à questão internacional, um dos principais objetivos de seu governo é consolidar a integração da América Latina, mediante a adoção de medidas efetivas mais além das comerciais.

Correa defende que da União das Nações Sulamericanas (Unasul) devem sair “ações concretas” que eliminem essa percepção irreal da integração e que superem as barreiras meramente comerciais.

Para o presidente equatoriano, esta integração deve abranger outras áreas como a alimentação e energia, e não só a comercial, que foram um dos grandes erros cometidos no passado, quando os países da região competiam entre si para obter melhores mercados em vez de cooperar como irmãos.

“O Estados Unidos é o primeiro sócio comercial do Equador” recordou Correa ao ser interrogado sobre sua relação com o governo do democrata Barack Obama, sobre o qual disse que continuará da maneira mais cordial, sempre e quando for baseada no respeito.

Sobre a relação do Equador com países opostos aos Estados Unidos como China, Irã e Rússia, o presidente socialista disse que estas seguirão aprofundando-se “sem medo, sem patronagem, sem ter que pedir permissão a ninguém”, declarou e acrescentou que isto faz parte da política internacional soberana que vem adotando seu governo desde 2007.

Correa esclareceu que este aprofundamento das relações internacionais será enfocado sobretudo com os países da América Latina, e será mais forte com aqueles cujos governos concordem com a doutrina socialista. (Com agências internacionais)

Estudantes ocupam sede do DCE da USP

Por Comunicação da Ocupação da Sede do DCE-USP

Desde 2006, com o argumento de reforma e regulamentação do espaço, a Reitoria manteve a sede do DCE fechada.

Agora, terminada a reforma, a Reitoria simplesmente informou ao DCE que o espaço seria controlado por ela, acabando com a histórica autonomia financeira e política dos estudantes.

Ontem à noite, a assembléia geral dos estudantes da USP, com mais de 400 presentes, decidiu retomar o espaço, que foi ocupado e agora está sob controle estudantil!

Essa ocupação é o primeiro passo na luta em torno dos 3 eixos aprovados na assembléia

NENHUM CENTAVO A MENOS PARA A EDUCAÇÃO!

A crise econômica vai gerar impactos catastróficos sobre o orçamento da Universidade. O ICMS - cuja parcela é o único sustento das estaduais paulistas - sofreu uma queda na ordem de 20%. Esse cenário anuncia um corte de verbas no nosso orçamento por parte do governo Serra.

ABAIXO A UNIVESP!

No final de 2008 foi aprovado o programa UNIVESP, que aprofunda a precarização da educação através do ensino à distância nas estaduais paulistas. Aqui na USP já foram criadas 360 vagas de licenciatura em ciências.

ABAIXO A REPRESSÃO!

Para implementar esses ataques, a Reitoria vem encaminhando processos de sindicância contra estudantes e funcionários devido a greves e à ocupação da Reitoria de 2007, assim como a retirada de espaços estudantis e a demissão do funcionário e diretor do Sintusp, Brandão.

Para barrar esses ataques à universidade, a assembléia apontou a construção de uma grande mobilização unificada das três categorias com perspectiva de uma greve das universidades estaduais paulistas.




NOTA PÚBLICA DO DCE DA USP

São Paulo, 25 de abril de 2009

Na última quinta-feira, dia 23 de abril, a assembléia geral dos estudantes da USP, com mais de 400 presentes, decidiu por unanimidade retomar a sede do nosso Diretório Central dos Estudantes – maior entidade representativa dos estudantes da Universidade de São Paulo.

A sede do DCE havia sido fechada pela reitoria da USP no ano de 2006, sob o pretexto de reforma e regulamentação do espaço. No início deste ano, com a proximidade do fim da reforma, a reitoria notificou ao DCE que o espaço físico, antes destinado às atividades políticas estudantis, passaria ao seu controle administrativo. Acabando, assim, a autonomia política e financeira dos estudantes sobre a sede de sua entidade.

O DCE da USP entende que essa ação por parte da reitoria é um claro ataque à liberdade de organização do movimento estudantil em nossa universidade. O que se passa com a sede do DCE não é um fato isolado, pois é parte de toda uma política repressiva da burocracia acadêmica, que se dá por meio da retirada de espaços estudantis, da demissão de um dirigente do sindicato dos funcionários (SINTUSP), de sindicâncias e inquéritos criminais contra estudantes e funcionários, multas às entidades representativas (DCE e SINTUSP), entre outros casos.

Esse processo repressivo vem com o intuito de desarticular a organização política da comunidade universitária, justamente quando se aprofunda a precarização do ensino público no estado de São Paulo. Afinal, as universidades públicas sofrerão fortes contingenciamentos de verbas, fruto dos reflexos da crise econômica no orçamento da educação. Além disso, será implementada a UNIVESP, projeto de ensino à distância que compromete ainda mais a qualidade do nosso ensino.

Portanto, nesse contexto, a luta pela autonomia dos espaços de organização política e por liberdades de manifestação torna-se extremamente fundamental para a defesa da educação. Por isso, reiteramos a defesa intransigente da sede do DCE, hoje, ocupada pelos seus legítimos donos: os estudantes. O DCE é nosso!

Diretório Central dos Estudantes - Gestão Nada Será Como Antes!



Estudantes ocupados aprovam calendário cultural


Programação da ocupação
(semana de 27 de abril a 1º de maio)

2ª FEIRA

21h30 cine ocupação

3ª FEIRA

13h debate
universidade em tempos de crise:
corte de verbas
ensino a distância
repressão
18h assembléia geral dos estudantes
21h festa no dce

4ª FEIRA

15h oficinas (stencil, lambe e camisetas)
18h debate
espaços estudantis
21h festa no dce

5ª FEIRA

12h oficina de maracatu - coro de carcarás

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Rede Globo e Daniel Dantas: um caso de polícia

Por Osvaldo da Costa
Fonte: MST - www.mst.org.br

Não se trata de cobertura dos fatos, se trata de um ataque à consciência dos telespectadores. Na noite de 19 de abril, o programa de variedades Fantástico, da Rede Globo, apresentou uma suposta reportagem sobre um conflito ocorrido numa fazenda do Pará, envolvendo "seguranças" (o termo procura revestir de legalidade a ação de jagunços) da fazenda do banqueiro Daniel Dantas e militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Só pude descobrir que se tratava de propriedade do banqueiro processado por inúmeros crimes e protegido por Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, após ter vasculhado algumas páginas na internet em busca de meu direito de escutar o outro lado da notícia, a versão dos fatos dos sem terra, pois na reportagem eles aparecem como invasores, baderneiros, seqüestradores da equipe de reportagem da Rede Globo, assassinos em potencial, e ao final, corpos de militantes aparecem baleados no chão, agonizantes, sangrando, sem nenhum socorro, e a reportagem não fornece nenhuma informação sobre o estado de saúde das vítimas.

Sem ter acesso às causas do conflito, e a nenhum dos dois lados envolvidos, o telespectador se vê impelido a acompanhar o julgamento que o narrador da reportagem e a câmera nos sugere. No caso, tendemos a concordar com a punição dada aos desordeiros: “que sangrem até morrer!”, ou “quem mandou brincar com fogo?!” podem ser algumas das bárbaras conclusões inevitáveis a que os telespectadores serão levados à chegar.

Nós, em nossas casas, consumidores do que a televisão aberta nos apresenta, não temos direito ao juízo crítico, porque o protocolo básico das regras do jornalismo não é mais cumprido. Nós somos atacados em nosso direito de receber informações e emitir julgamentos, nós somos saqueados por emissoras privadas que mobilizam nosso sentimento de medo, ódio e desprezo, para em seguida nos exigir sorrisos com a próxima reportagem.

Como um exercício de manutenção da capacidade de reflexão, precisamos nominar esse tipo de ataque fascista com os termos que ele exige. A ilusão de verdade deve ser desmontada, a suposta neutralidade deve ser desmascarada, caso a caso, na medida de nossas forças.

Seguem questionamentos à reportagem, com o intuito de expor o arbítrio de classe da Rede Globo, para que esse texto possa endossar a documentação que denuncia a irregularidade das emissoras privadas e protesta contra a manutenção de concessões públicas para empresas que não cumprem com as leis do setor.

1º) Por que a Globo protege Dantas? Por que a emissora não tornou evidente que as terras pleiteadas pelo MST para Reforma Agrária são de Daniel Dantas? Qual o grau de envolvimento da emissora nas manobras ilícitas do banqueiro?

2°) Por que o MST não foi escutado na reportagem? Quais os motivos do movimento para decidir ocupar aquela fazenda?

3°) As imagens contradizem os fatos. A câmera da equipe de reportagem aparece sempre posicionada atrás dos seguranças da fazenda, e nunca à frente dos sem terra.

E vejam informação da Agência Estado: “A polícia de Redenção informou a Puty [Cláudio Puty, chefe da Casa Civil do governo do Pará] não ter havido cárcere privado de jornalistas e funcionários da Agropecuária Santa Bárbara, pertencente ao grupo do banqueiro Daniel Dantas e que tem 13 fazendas invadidas e ocupadas pelo MST. Os jornalistas, porém, negam a versão da polícia e garantem que ficaram no meio do tiroteio entre o MST e seguranças da fazenda” (http://br.noticias.yahoo.com/s/19042009/25/manchetes-pm-desarmar-mst-segurancas-no.html). Quer dizer, nem mesmo os grandes jornais conservadores estão fazendo coro com a cobertura extremamente parcial da Rede Globo.

4°) Ocorreu um tiroteio mesmo? Só aparecem os jagunços da fazenda atirando, e com armas de calibre pesado. E a imagem dos feridos mostra os sem terra baleados e um jagunço de pé, com pano na cabeça, possivelmente contendo sangramento de ferimento não causado por arma de fogo, dado o estado de saúde do homem.

5º) Por que os feridos não são tratados com o mesmo direito à humanidade que as vítimas de classe média da violência urbana? Eles não têm nomes? O que aconteceu com eles? Algum morreu? Quem prestou socorro? Em que hospital estão? Por que essas informações básicas foram omitidas?

6°) Por que mostrar como um troféu a agonia de seres humanos sangrando no chão, sem nenhum socorro?

A Cúpula Secreta


Os donos do espetáculo nos privaram de tão interessante exercício intelectual.

Reflexões do companheiro Fidel

FONTE: Portal Desacato.info


Nem representados nem excomungados na Cimeira de Porto Espanha pudemos conhecer até hoje o que ali foi discutido. Fizeram-nos pensar a todos as esperanças de que a reunião não seria secreta, mas os donos do espetáculo nos privaram de tão interessante exercício intelectual. Conheceremos a essência, mas não o tom de voz, nem os olhos, nem os rostos que tanto refletem as idéias, a ética e o caráter das pessoas. Uma Cimeira Secreta é pior do que o cinema mudo. Durante uns breves minutos a televisão mostrou algumas imagens. À esquerda de Obama estava um senhor o qual não consegui identificar bem, quando punha a mão sobre as costas de Obama, como um colegial de oito anos a um companheiro da primeira fileira. Ao seu lado, em pé, outro do séquito o interrompia para dialogar com o Presidente dos Estados Unidos; vi naqueles que o importunavam a estampa de uma oligarquia que jamais conheceu a fome e na poderosa nação de Obama esperam ter o escudo que protegerá o sistema contra as temidas mudanças sociais.

Na Cimeira prevalecia, até esse momento, uma estranha atmosfera.

O espetáculo artístico do anfitrião brilhou realmente. Poucas vezes, talvez nunca, vi coisa parecida. Um bom locutor, ao parecer trinitário, tinha dito com orgulho que era uma coisa única.

Foi um verdadeiro esbanjamento de cultura e ao mesmo tempo de luxo. Meditei um pouco. Calculei quanto custaria tudo aquilo e de repente percebi que nenhum outro país das Caraíbas podia dar-se ao luxo de apresentar um espetáculo semelhante, que a sede da Cimeira é imensamente rica, uma espécie de Estados Unidos rodeados de pequenos países pobres. Poderiam os haitianos com a sua muito rica cultura ou a Jamaica, a Granada, a Dominica, a Guiana, Belize u outra, ser sede de uma Cimeira tão luxuosa? As suas praias podem ser maravilhosas, mas não estariam rodeadas das torres que caracterizam a paisagem trinitária e acumulam com essa matéria-prima, não renovável, os inúmeros recursos que hoje sustentam as riquezas desse país. Quase todas as restantes ilhas que integram a comunidade das Caraíbas, situadas mais para o norte, são diretamente açoitadas pelos furacões de grande intensidade que todos os anos sacudiram as nossas irmãs ilhas das Caraíbas.

Alguém haverá recordado nessa reunião que Obama prometeu investir quanto dinheiro se precisasse para auto-abastecer os Estados Unidos de combustível? Tal política afetaria diretamente a muitos dos Estados ali reunidos que não poderão dispor das tecnologias e dos enormes investimentos requeridos para um esforço nessa ou outra direção.

Uma coisa que realmente me impactou na etapa da Cimeira decorrida até hoje sábado 18 de Abril, 11 e 47 minutos, em que escrevo estas linhas: o discurso de Daniel Ortega. Prometi-me a não publicar nada até a próxima segunda-feira 20 de Abril para observar o que acontecia na famosa Cimeira.

Não falou o economista, o cientista, o intelectual ou o poeta. Daniel não elegeu palavras difíceis para impressionar aos seu ouvintes. Falou o Presidente de um dos cinco países mais pobres do hemisfério, o combatente revolucionário, em nome de um grupo de países centro-americanos e a República Dominicana que está associada ao SICA (Sistema de investigação Centro-americano).

Seria suficiente ser algum das centenas de milhares de nicaraguanos que aprenderam a ler e escrever na primeira etapa da Revolução Sandinista, onde o índice de analfabetismo se reduziu de 60% a 12%, ou quando de novo Daniel recebeu o poder em 2007, que tinha alcançado o 35% de analfabetismo.

O seu discurso durou aproximadamente 50 minutos, com voz pausada e serena, porém si o reproduzisse totalmente seria demasiado extensa esta reflexão.

Sintetizarei o seu singular pronunciamento utilizando as suas próprias palavras textuais em cada uma das idéias básicas que transmitiu. Não utilizarei reticências e o farei com as aspas apenas quando Daniel se refere às palavras textuais de outra pessoa ou instituições:

A Nicarágua recorreu à Corte Internacional de Justiça de Haia: apresentou a sua demanda contra a política de guerra, da política terrorista que vinha desenvolvendo o presidente Ronald Reagan em nome dos Estados Unidos.

O nosso delito: haver-nos libertado da tirania de Anastásio Somoza, imposta pela intervenção das tropas ianques na Nicarágua.

Centro-américa tem sido sacudida desde o século passado pelas políticas expansionistas, políticas de guerra que nos levaram a unir-nos os centro-americanos para derrubá-la.

Depois foram as intervenções que duraram desde o ano 1912 até o ano 1932 e deixaram como resultado a imposição da tirania dos Somoza, armada, financiada e defendida pelos governantes norte-americanos.

Tive a oportunidade de encontrar-me com o presidente Reagan em plena guerra, demo-nos a mão e lhe pedi o cessar da guerra contra a Nicarágua.

Tive a ocasião de encontrar-me com o presidente Carter e quando me dizia que “agora que tinha saído a tirania dos Somoza, o povo nicaraguano, era hora de que a Nicarágua mudasse”. Eu lhe disse: Não, a Nicarágua não tem que mudar, os que têm que mudar são vocês, a Nicarágua nunca tem invadido os Estados Unidos; a Nicarágua nunca tem minado os portos dos Estados Unidos; a Nicarágua não tem lançado uma só pedra contra a nação norte-americana; a Nicarágua não tem imposto governos nos Estados Unidos; são vocês os que têm que mudar, não os nicaraguanos.

Ainda em plena guerra, tive a oportunidade de encontrar-me com quem recém tinha assumido a presidência dos Estados Unidos, George Bush, pai. Num encontro em Costa Rica, no ano de 1989, quando nos sentamos, ficamos um frente ao outro, o presidente Bush e eu, ele o comentou:

“Aqui tem vindo a imprensa porque querem ver-nos brigar ao Presidente dos Estados Unidos e ao Presidente da Nicarágua e fizemos o esforço para não dar esse gosto à imprensa”, disse Bush.

A Nicarágua continuava submetida ainda à guerra imposta pelos Estados Unidos; face a demanda que a Nicarágua apresentou perante a Corte Internacional de Justiça de Haia, a corte falhou e ditou sentença, disse com toda clareza que “ Os Estados Unidos deviam deter todas as suas ações militares , o minado dos portos, o financiamento da guerra: que devia indicar em que lugar estavam as minas que tinham colocado e se negavam a dar essa informação”, mandava além disso ao governo dos Estados Unidos a indenizar a Nicarágua, também pelo bloqueio econômico e comercial que lhe tinha imposto.

As lutas que estamos levando a cabo na Nicarágua, em Centro-américa e na América Latina para libertar os nossos povos do analfabetismo, são lutas que as estamos levando avante com a solidariedade incondicional, generosa, do irmão povo de Cuba, de Fidel, que foi quem promoveu esses processos solidários de alfabetização, e o seu presidente Raúl Castro, que lhes tem dado continuidade a estes programas, abertos para todos os povos latino-americanos e das Caraíbas.

Depois se tem incorporado com um espírito generoso o povo bolivariano, o povo da Venezuela, com o seu Presidente Hugo Chaves Frias.

Aqui estamos presentes uma grande maioria dos Presidentes e Chefes de Governo da América Latina e as Caraíbas; estão a participar o Presidente dos Estados Unidos, o Primeiro-Ministro do Canadá; mas aqui há dois grandes ausentes: um deles é Cuba, cujo delito tem sido lutar pela independência, pela soberania dos povos; prestar solidariedade, sem condições, aos nossos povos, e por isso é sancionada, é punida, por isso é excluída. É por esta razão que já não me sinto à vontade nesta Cimeira, não posso sentir-me à vontade, sinto vergonha de estar a participar nesta Cimeira com a ausência de Cuba.

Outro povo não está aqui presente, porque, a diferença de Cuba, uma nação independente, solidária, esse outro povo está submetido ainda às políticas colonialistas: refiro-me ao irmão povo de Porto Rico.

Estamos trabalhando para construir uma grande aliança, uma grande unidade dos povos latino-americanos e caribenhos. Vai chegar o dia em que ali também, nessa grande aliança, estará o povo de Porto Rico

Na década dos cinqüenta a discriminação racial estava institucionalizada, era parte do modo de vida norte-americano, parte da democracia norte-americana: os negros não podiam entrar nos restaurantes dos brancos, nem nos bares dos brancos; as crianças, os filhos de famílias negras, não podiam ir às escolas onde estudavam as crianças brancas. Para quebrar o muro da discriminação racial foi necessário -e disso o sabe melhor do que nós o presidente Obama- Martin Luther King, dizia: “Eu tenho um sonho”. O sonho se tornou realidade e o muro da discriminação racial desabou nos Estados Unidos de América, graças à luta desse povo.

Esta reunião, este encontro se inicia, precisamente, o dia em que se iniciou a invasão a Cuba no ano de 1961. Conversando com o Presidente de Cuba, Raúl Castro, dava-me alguns dados Raúl: “Daniel, o presidente Obama nasceu a 4 de Agosto de 1961, tinha três meses e meio quando é conseguida a vitória em Playa Girón a 19 de Abril desse ano, evidentemente, não tem responsabilidade nesse fato histórico. A 15 de Abril, os bombardeamentos; o 16 é proclamado socialismo, por Fidel, na sepultura das vítimas; o 17 começa a invasão; o 18 continuam os combates e o 19, a vitória, antes das 72 horas. Raúl " (Raúl contou-me, ao seu regresso de Cumaná, que ao escrever uma nota para Daniel, fez um cálculo rápido e cometeu um erro quando afirmou que a invasão de Playa Girón foi quando Obama tinha três meses e meio, quando deveu dizer que nasceu três meses e meio depois; que ele era o único responsável do erro.)

Isso é história. Nesse ano 2002, também no mês de Abril, a 11 de Abril, foi dado um golpe de Estado com a intenção de assassinar um presidente eleito na República Bolivariana da Venezuela; o presidente Hugo Chávez foi capturado, e estava dada a ordem de assassiná-lo. Quando surge o governo fantoche, o governo norte-americano, através do seu porta-voz, reconhece os golpistas e lhes da a razão aos golpistas. Razão temos para dizer que isso não é história; há apenas sete anos produziram-se esses factos violentos contra a institucionalidade de um povo, de uma nação progressista, solidária, revolucionária.

Considero que o tempo que estou empregando é muito menor que aquele que tive que empregar, três horas, esperando no aeroporto dentro do avião.

A liberdade de expressão tem que ser para o grande e para o pequeno: Belize, a Costa Rica, a Guatemala, Honduras, a Nicarágua, o Panamá, El Salvador e a República Dominicana como associado. A área territorial é de 568 988 quilômetros quadrados. A população é um pouco mais de 41,7 milhões de habitantes.

Declaramos que lhes sejam entregues os TPS (Status de Proteção Temporal) a todos os imigrantes que estão nos Estados Unido, mas as causas da emigração estão no desenvolvimento, na pobreza que vivem os povos centro-americanos.

A única maneira de deter esse luxo de emigrantes para os Estados Unidos não é levantando muros, não é reforçando a vigilância militar nas fronteiras a única maneira.

Os Estados Unidos necessita a mão-de-obra centro-americana, como necessita mão-de-obra mexicana; quando já essa mão-de-obra vai mais para além das demandas da economia norte-americana, então aparecem as políticas repressivas, é contribuindo com fundos sem condições políticas, sem as condicionalidades do Fundo Monetário Internacional.

Temos a ingrata tarefa de tomar conta das fronteiras dos Estados Unidos pelo consumo da droga.

Apenas na Nicarágua, no ano passado, a polícia nacional confiscou mais de 360 toneladas de coca. Isso, a preço de mercado nos Estados Unidos, com certeza soma mais de 1 bilhão de dólares.

Quanto lhe tributa os Estados Unidos a Nicarágua por tomar conta das suas fronteiras? Tributa-lhe um milhão 200 mil dólares.

Não é justo, não é equitativo, não é ético, não é moral que seja o G-20 quem continue a tomar as grandes decisões; é a altura de que seja o G-192, isto é, todos, nas Nações Unidas.

Aqueles que tiveram negociações com o Fundo (FMI) sabem perfeitamente o que significou o Fundo, como tem sacrificado programas sociais, programas agrícolas, programas produtivos, para atirar os recursos e pagar a dívida, a dívida imposta pelas normas estabelecidas pelo capitalismo global.

Apenas tem sido um instrumento para estabelecer e desenvolver, a partir das metrópoles, políticas colonialistas, neocolonialistas e imperialistas.

Mahatma Gandhi naquela luta heróica que encorajou pela independência da Índia perante a Inglaterra dizia: “ A Inglaterra tem utilizado um quarto dos recursos do planeta para chegar ao seu actual estado de desenvolvimento. Quantos recursos necessitará a Índia para chegar ao mesmo desenvolvimento?” Já neste século XXI e desde os fins do século XX, não era só Inglaterra, mas também todos os países capitalistas desenvolvidos a estabelecer a sua hegemonia à custa da destruição do planeta e da espécie humana, impondo os valores consumistas do seu modelo.

A única maneira de salvar o planeta, e com isso o desenvolvimento sustentável da humanidade, será que se estabeleçam os alicerces de uma nova ordem econômica internacional, de um novo modelo econômico social, político, que seja verdadeiramente justo, solidário e democrático.

No projecto que se conhece como Petrocaribe e a ALBA- em Petrocaribe estão quase todos os países das Caraíbas, mas também estamos alguns países centro-americanos. Há países do SICA que estamos em Petrocaribe: Belize, a Guatemala, Honduras, a República Dominicana, a Nicarágua, o Panamá.

“Os Chefes de Estado e de Governo da Bolívia, Cuba, Dominica, Honduras, a Nicarágua e a Venezuela, países membros da ALBA, consideramos que o projeto de Declaração da V Cimeira das Américas é insuficiente e inaceitável pelas seguintes razões:

(Lê imediatamente a declaração da ALBA sobre o documento proposto pela Cimeira das Américas.)

“Não da resposta ao tema da Crise Econômica Global, apesar de que esta constitui o maior desafio o qual a humanidade tem encarado em décadas.

“Exclui injustificadamente a Cuba, sem mencionar o consenso geral que existe na região para condenar o bloqueio e as tentativas de isolamento dos quais o seu povo e o seu governo tem sido incessantemente objeto, de maneira criminosa.

“O que estamos a viver é uma crise econômica global de caráter sistêmico e estrutural e não mais uma crise cíclica.

“O capitalismo tem provocado a crise ecológica por submeter as condições necessárias para a vida no planeta ao predomínio do mercado e o lucro.

Para evitar este desenlace é preciso desenvolver um modelo alternativo ao sistema capitalista. Um sistema de harmonia com a nossa mãe pátria e não de saqueio dos recursos naturais; um sistema de diversidade cultural e não de esmagamento de culturas e imposição de valores culturais e estilos de vida alheios às realidades dos nossos países; um sistema de paz baseado na justiça social e não em políticas e guerras imperialistas; um sistema que não os conduza a ser simples consumidores ou mercadorias.

A respeito do bloqueio dos Estados Unidos contra Cuba e a exclusão deste país da Cimeira das Américas, os países da Alternativa Bolivariana para os Povos da Nossa América reiteramos a Declaração que todos os países da América Latina e as Caraíbas adotaram o passado 16 de Dezembro de 2008 sobre a necessidade de pôr fim ao bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelo governo dos Estados Unidos de América a Cuba, incluída a aplicação da chamada Lei Helms-Burton, bem conhecida por todos.

No meu país, a Nicarágua, os governos antecessores cumpriram rigorosamente com a política neoliberal. A partir do ano 1990, quando a Frente Sandinista deixa o governo, até a 10 de Janeiro do ano 2007, quando a Frente Sandinista retorna ao governo; foram aplicadas durante 16 anos.

Quando triunfou a revolução na Nicarágua em 1979, as tiranias e governos que tinham sido impostos e sustentados pelos governantes norte-americanos na Nicarágua, os democratas que se denominavam a si próprios como democratas deixaram Nicarágua com um 60% de analfabetismo.

A nossa primeira grande batalha foi acabar com o analfabetismo, e nos engajamos nessa grande batalha e conseguimos reduzir o analfabetismo a 11,5%, 12%. Não conseguimos ir mais para além porque nos foi imposta uma política de guerra por parte da administração Reagan.

Entregamos o governo em 1990 com 12,5% de analfabetismo no país e recebemos o país, no mês de Janeiro do ano 2007, com 35% de analfabetismo.

Estes não são dados que inventa o governo, são dados trabalhados pelos organismos especializados em temas de educação e cultura.

Esse é o resultado do neoliberalismo que lhe foi aplicado a Nicarágua, das privatizações que lhe foram aplicadas a Nicarágua, porque foi privatizada a saúde, a educação, os pobres foram excluídos, para outros a mudança foi boa porque se enriqueceram, o modelo tem demonstrado que é de muito sucesso para acumular riquezas, para expandir a pobreza. É grande concentrador da riqueza e grande multiplicador da miséria e da pobreza.

É um problema da ordem ética, um problema da ordem moral onde descansa o futuro, não apenas dos países empobrecidos, como os cinco países que já mencionei aqui na América Latina e as Caraíbas, que não temos muito que perder, apenas a dependência, no caso que não haja uma mudança ética, no caso que não haja uma mudança moral, no caso que não haja uma mudança de valores, que nos permita ser realmente sustentáveis.

Já não é um assunto de ideologia, não é um assunto político; é um assunto de sobrevivência. E ai nos vamos todos, desde os G-20 até os G-5 que somos os mais empobrecidos da América Latina e as Caraíbas.

Penso que esta crise que hoje está afetando ao mundo e que está levando a discussões, a debates, a procura de soluções, devemos assumi-la tendo em conta que já não é possível, já não é sustentável o atual modelo de desenvolvimento.

A única maneira de salvar-nos todos é mudar o modelo.

Muito obrigado.

As frases de Daniel na inauguração da Cimeira parecia o dobrar do sino por uma política de séculos, que até poucos meses foi aplicado aos povos da América Latina e as Caraíbas.

São as 19 e 58 horas. Acabo de ouvir as palavras do Presidente Hugo Chávez. A Venezolana de Televisão, ao parecer, introduziu uma câmara na “Cúpula Secreta” e transmitiu umas palavras dele.

Ontem o vimos devolver amavelmente o gesto de Obama quando se dirigiu onde ele estava e o cumprimentou, um gesto do Presidente dos Estados Unidos sem dúvidas inteligente.

Esta vez Chávez se levantou da sua cadeira, foi até o lugar onde estava Obama à cabeça de um salão retangular junto da Michelle Bachelet e lhe entregou o conhecido livro de Galeano.”As veias abertas da América Latina”, atualizado sistematicamente pelo autor. Não sei em que momento do dia aconteceu.

Mencionei simplesmente a hora em que o ouvi.

Anuncia-se que a Cimeira concluirá amanhã ao meio dia.

O Presidente dos Estados Unidos tem estado muito ativo. Conforme noticias se reuniu não só com o pleno da Cimeira, mas também com todos os subgrupos da região.

O seu predecessor se deitava cedo e dormia muitas horas. Obama, ao parecer, trabalha muito e dorme pouco.

Hoje dia 19 às 11 e 57 horas, não vejo nada novo. O canal da CNN está sem notícias frescas. Ouço o dobrar dos 12 sinos do relógio, nesse instante foi para a tribuna da Cimeira o Primeiro-Ministro de Trinidad e Tobago. Dedico-me a ouvi-lo e percebo algumas coisas estranhas. O rosto de Manning está tenso. Um tempo depois fala Obama e posteriormente responde perguntas da imprensa; vejo-o mais áspero embora que calmo. O que mais me chamou a atenção é que foi organizada uma conferência de imprensa integrada por vários lideres na qual nenhum dos discrepantes do documento falou.

Manning tinha dito antes que ele mesmo se preparou há dois anos quando não existia uma profunda crise econômica e portanto os problemas atuais não eram referidos com toda clareza. Sem dúvidas, pensei, faltava McCain. Com certeza a OEA, Leonel e a República Dominicana recordavam o apelido do chefe militar dos invasores de 1965 e os 50 mil soldados que a ocuparam para impedir o regresso de Juan Bosch, que não era marxista leninista.

Os da conferência eram o Primeiro-Ministro do Canadá, homem francamente de direita e o único que tinha sido grosseiro com Cuba; o presidente de México, Felipe Calderón; Martin Torrijos do Panamá e como era lógico Patrick Manning. O das Caraíbas e os três latino-americanos foram respeitosos com Cuba.

Nenhum a atacou e tinham expressado a sua oposição ao bloqueio.

Obama falou do poder militar dos Estados Unidos com o qual poderia ajudar na luta contra o crime organizado e a importância do mercado norte-americano. Reconheceu também que os programas que leva avante o Governo de Cuba, como o envio de contingentes médicos a países da América Latina e as Caraíbas, podem ser mais efectivos que o poder militar de Washington na altura de ganhar influência na região.

Os cubanos não o fazemos por ganharmos influência; é uma tradição que foi iniciada em Argélia em 1963, quando lutava contra o colonialismo francês, e o temos feito em dezenas de países do Terceiro Mundo.

Foi áspero e evasivo com relação ao bloqueio na sua entrevista com a imprensa; mas já nasceu e completará os 48 anos a 4 de Agosto.

Esse mesmo mês, nove dias depois, eu completarei 83 anos, quase o duplo da sua idade, mas agora disponho de muito mais tempo para pensar. Desejo recordar-lhe um princípio ético elementar relacionado com Cuba: qualquer injustiça, qualquer crime, em qualquer época não tem nenhum pretexto para perdurar; o cruel bloqueio contra o povo cubano custa vidas, custa sofrimentos; também afeta a economia com a qual é sustentada uma nação e limita as suas possibilidades de cooperar com os serviços de saúde, educação, desporto, poupança energética e proteção do meio ambiente com muitos países pobres do mundo.

Fidel Castro Ruz.

Abril 19 de 2009

Sobre a farsa da conferência do "anti-racismo" da ONU

FONTE: OUTUBRO VERMELHO

Nos últimos dias, a ONU promoveu em Genebra uma “progressista” conferência para formular um grande pacto internacional anti-racista. Porém, países dos mais racistas do mundo decidiram boicotar o evento: EUA, Itália, Israel, Alemanha, Canadá, Holanda e Polônia decidiram não comparecer alegando que já no texto de convocação estavam implicitas considerações anti-semitas, uma vez que pontuava o desrespeito e violações dos direitos humanos na Palestina. Que o fascista Berlusconi boicote uma conferência anti-rascista até se pode entender, mas e o primeiro presidente negro dos EUA?

Interessante é pensar que os EUA se furtem a esse debate meses depois da grande festa da democracia eleitoral, com a nomeação do primeiro presidente negro norte-americano, que, todos diziam, prometia uma nova era das relações raciais e de igualdade de direitos. Os EUA de Obama, em vez de ser o carro chefe do anti-racismo na ONU, é o carro chefe do boicote à conferência.

Tamanha contradição entre tudo o que foi alardeado sobre o “fim” do racismo nos EUA, e a prática efetiva desse país, que nem no mero âmbito formal aceita relativizar suas formulações de racismo, e a sua concepção da atuação do estado de Israel na ocupação da Palestina, poderia ser vista como um verdadeiro escândalo, que descredenciaria o presidente Obama e todas a suas promessas de salvação em tempos de crise.

Por isso era necessária uma manobra que ocultasse o escândalo, e transferisse a responsabilidade do fracasso da conferência para algum dos países do “eixo do mal”. E a bola da vez foi o Irã. O presidente do Irã começou a falar sobre as mesmas coisas de sempre, que todos sabiam que ele falaria, que ele já falou 500 vezes, que o Estado de Israel utiliza o holocausto do povo judeu na Alemanha nazista como uma espécie de justificativa para o genocídio que impõe ao povo palestino há décadas. Como funciona esse “complexo” sistema? Assim: “ah, você discorda do que nós Israel estamos fazendo com o povo e as terras palestinas? Pois, isso porque você é antisemita, logo nazista e nega o holocausto.” Simples assim, o agressor vira agredido.

Pois quando o presidente do Irã começou a falar, os diplomatas da União Européia que estavam na conferência, “puxados” pelo presidente francês Sarkosy (que também tem seu histórico de racismo) se retiraram e esvaziaram a reunião, em pretensa solidariedade ao povo judeu.

Manobra concluída, reunião esvaziada, o culpado na cruz, e o racismo segue vivo na era Obama.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Ego das Américas

Angeli
Publicado na Folha de S. Paulo
20/04/2009

ESCLARECIMENTOS SOBRE ACONTECIMENTOS NO PARÁ

Por MST - Pará

Em relação ao episódio na região de Xinguara e Eldorado de Carajás, no sul do Pará, o MST esclarece que os trabalhadores rurais acampados foram vítimas da violência da segurança da Agropecuária Santa Bárbara. Os sem-terra não pretendiam fazer a ocupação da sede da fazenda nem fizeram reféns. Nenhum jornalista nem a advogada do grupo foram feitos reféns pelos acampados, que apenas fecharam a PA-150 em protestos pela liberação de três trabalhadores rurais detidos pelos seguranças. Os jornalistas permaneceram dentro da sede fazenda por vontade própria, como sustenta a Polícia Militar. Esclarecemos também que:

1- No sábado (18/4) pela manhã, 20 trabalhadores sem-terra entraram na mata para pegar lenha e palha para reforçar os barracos do acampamento em parte da Fazenda Espírito Santo, que estão danificados por conta das chuvas que assolam a região. A fazenda, que pertence à Agropecuária Santa Bárbara, do Banco Opportunity, está ocupada desde fevereiro, em protesto que denuncia que a área é devoluta. Depois de recolherem os materiais, passou um funcionário da fazenda com um caminhão. Os sem-terra o pararam na entrada da fazenda e falaram que precisavam buscar as palhas. O motorista disse que poderia dar uma carona e mandou a turma subir, se disponibilizando a levar a palha e a lenha até o acampamento.

2- O motorista avisou os seguranças da fazenda, que chegaram quando os trabalhadores rurais estavam carregando o caminhão. Os seguranças chegaram armados e passaram a ameaçar os sem-terra. O trabalhador rural Djalme Ferreira Silva foi obrigado a deitar no chão, enquanto os outros conseguiram fugir. O sem-terra foi preso, humilhado e espancado pelos seguranças da fazenda de Daniel Dantas.

3- Os trabalhadores sem-terra que conseguiram fugir voltaram para o acampamento, que tem 120 famílias, sem o companheiro Djalme. Avisaram os companheiros do acampamento, que resolveram ir até o local da guarita dos seguranças para resgatar o trabalhador rural detido. Logo depois, receberam a informação de que o companheiro tinha sido liberado. No período em que ficou detido, os seguranças mostraram uma lista de militantes do MST e mandaram-no indicar onde estavam. Depois, os seguranças mandaram uma ameaça por Djalme: vão matar todas as lideranças do acampamento.

4- Sem a palha e a lenha, os trabalhadores sem-terra precisavam voltar à outra parte da fazenda para pegar os materiais que já estavam separados. Por isso, organizaram uma marcha e voltaram para retirar a palha e lenha, para demonstrar que não iam aceitar as ameaças. Os jornalistas, que estavam na sede da Agropecuária Santa Bárbara, acompanharam o final da caminhada dos marchantes, que pediram para eles ficarem à frente para não atrapalhar a marcha. Não havia a intenção de fazer os jornalistas de “escudo humano”, até porque os trabalhadores não sabiam como seriam recebidos pelos seguranças. Aliás, os jornalistas que estavam no local foram levados de avião pela Agropecuária Santa Bárbara, o que demonstra que tinham tramado uma emboscada.

5- Os trabalhadores do MST não estavam armados e levavam apenas instrumentos de trabalho e bandeiras do movimento. Apenas um posseiro, que vive em outro acampamento na região, estava com uma espingarda. Quando a marcha chegou à guarita dos seguranças, os trabalhadores sem-terra foram recebidos a bala e saíram correndo – como mostram as imagens veiculadas pela TV Globo. Não houve um tiroteio, mas uma tentativa de massacre dos sem-terra pelos seguranças da Agropecuária Santa Bárbara.

6- Nove trabalhadores rurais ficaram feridos pelos seguranças da Agropecuária Santa Bárbara. O sem-terra Valdecir Nunes Castro, conhecido como Índio, está em estado grave. Ele levou quatro tiros, no estômago, pulmão, intestino e tem uma bala alojada no coração. Depois de atirar contra os sem-terra, os seguranças fizeram três reféns. Foram presos José Leal da Luz, Jerônimo Ribeiro e Índio.

7- Sem ter informações dos três companheiros que estavam sob o poder dos seguranças, os trabalhadores acampados informaram a Polícia Militar. Em torno das 19h30, os acampados fecharam a rodovia PA 150, na frente do acampamento, em protesto pela liberação dos três companheiros que foram feitos reféns. Repetimos: nenhum jornalista nem a advogada do grupo foram feitos reféns pelos acampados, mas permaneceram dentro da sede fazenda por vontade própria. Os sem-terra apenas fecharam a rodovia em protesto pela liberação dos três trabalhadores rurais feridos, como sustenta a Polícia Militar.

MOVIMENTOS DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA - PARÁ

'Pobres no Rio vivem dias de horror’

Escrito por Gabriel Brito e Valéria Nader
CORREIO DA CIDADANIA

Estamos na porta de entrada de tempos (ainda mais) difíceis no país. Com crise, desemprego e muita violência nas grandes cidades, os políticos, sem romper seus pactos, precisam apresentar soluções para combater tal quadro. Dessa forma, é produzida uma série de medidas que mais combatem os pobres do que a pobreza. Pintam as paredes, mas não mexem na estrutura interna do ‘prédio’.

Por conta disso, o Rio de Janeiro vem sendo palco de seguidas políticas de limpeza e segregação social, como mostram os choques de ordem e agora o levantamento de muros no entorno de favelas, levados a cabo por prefeitura e governo do estado, respectivamente.

Para a socióloga Vera Malaguti, do Instituto de Criminologia Carioca, o que vemos é a expressão de um fascismo estatal mancomunado com grandes interesses econômicos. O governo pretende levantar 11 mil metros de muros, com 3m de altura, começando pela zona sul, cuja expansão de favelas não chegou à metade do aferido na zona oeste, de 11,5% - dados do Instituto Pereira Passos.

Malaguti aponta que os pobres no Rio de Janeiro são vítimas de crescente truculência oficial e vistos como ‘lixo humano’ que precisa ser removido da cidade, uma vez que a presença dessa parcela da população é prejudicial aos grandes negócios e à especulação imobiliária.

Correio da Cidadania: Como você vê a idéia do governo local de construir muros no entorno de favelas, sob a alegação de preservar algumas áreas verdes da cidade?

Vera Malaguti: É um absurdo e vem junto do circo de horrores do qual vem sendo palco o Rio de Janeiro, através de extermínios da polícia (a que mais mata no mundo), das remoções dos pobres, demolição de casas em áreas populares ilegais...

Enfim, é todo um festival de truculência, em articulação da prefeitura com o governo do estado, completamente ligados aos grandes negócios privados, como os esportivos, e impondo um cerco fascista sobre os pobres. E, além do muro, que é uma vergonha, as remoções voltaram à pauta.

Todo o processo é capitaneado pelas Organizações Globo, com campanha diária no RJTV, no jornal O Globo, sempre focalizando a pobreza como detrito, como algo que conspurca o ambiente. E tudo em nome dos grandes negócios privados, uma vergonha.

O Rio de Janeiro talvez esteja passando pelo seu pior momento desde Lacerda. Parece uma volta com força total da UDN, terrível.

CC: O que pensa do fato de as favelas escolhidas para receberem os primeiros muros se localizarem em bairros mais nobres ou de classe média, mesmo com a expansão recente de tais favelas estando abaixo de índices considerados preocupantes, inclusive em comparação com outras?

VM: Aí fica clara a parceria do governo com a especulação imobiliária, afinal, são áreas nobres, e ter os pobres ali não lhes interessa.

É tão chocante, tão óbvia, essa mistura de truculência fascista com Parcerias Público-Privadas sinistras! Estou sendo enfática, mas é que chegamos num ponto... Ontem mesmo houve o assassinato pela polícia de um menino da Maré, a população tentava protestar e era reprimida da pior forma possível pela mesma polícia. E tudo sempre sob a desculpa do tráfico.

Acho que o fim do brizolismo no Rio foi muito ruim. Para exemplificar, uma das coisas que O Globo fez para comemorar os 45 anos do golpe militar foram acusações levianas sobre o Brizola, ao mesmo tempo em que o associava ao crescimento das favelas. O vazio criado por sua morte, junto ao estraçalhamento das forças de esquerda, deixou o fascismo ocupar a cidade.

CC: Ao se juntar tal ação com a também recente medida dos choques de ordem, vemos que as políticas de higienização nas grandes cidades têm sido levadas ao paroxismo, não?

VM: Exatamente. O velho projeto fascista, com essa maneira de olhar os pobres como lixo humano na cidade, se consolidou, sendo orquestrada também pela grande imprensa tal proposta de apartheid.

Os pobres no Rio de Janeiro vivem dias de horror. Acho que as forças de esquerda, libertárias, precisam se organizar contra isso. Tudo começou pela questão criminal, o que é um problema, pois até a esquerda embarca no discurso de luta contra o tráfico, sempre localizada nas favelas.

Daí para choques de ordem, remoções, muros, é um passo. É um projeto higienista reciclado, em nome da ordem na cidade, dos grandes negócios de Copa, Olimpíadas, dos grandes capitais que circulam no Rio. Tais negócios são uma obsessão para o governo e a prefeitura, que sempre estão em viagem buscando grandes investimentos.

Enquanto isso, pau nos pobres aqui. É um projeto sinistro.

CC: Essas medidas não podem potencializar o ódio entre classes, na medida em que reforçam uma idéia segregacionista?

VM: Claro, isso não vai dar certo. Durante um tempo, algumas forças progressistas do Rio aceitaram a pauta criminal da direita, e assim o fascismo encontrou sua brecha, sendo que acaba se alastrando para a questão habitacional, ambiental, onde muitas vezes se refugia, como neste caso dos muros, aliás.

Uma vereadora do PT foi uma das que mais defenderam os muros, sempre fala em remoções nas favelas da zona sul, como a dos Tabajaras, uma vez que as áreas verdes na cidade se concentram mais na zona sul e posto 9.

Tais equívocos abrem o caminho para o fascismo mais explícito, que vemos nessa mistura de truculência contra os pobres e grandes negócios (com ilegalidades) particulares.

CC: Você acredita que o levantamento dos muros vai impactar de alguma maneira, ainda que a curto prazo, nos índices de criminalidade?

VM: Acho que vai emparedar os pobres e produzir outros efeitos, intra e extramuros. É mais uma grande violência, portanto, entrará nesse moinho gerador de ódios.

Espero que isso possa ser barrado, apesar de todo o esforço da grande imprensa. Fazem pesquisas dizendo que os favelados são favoráveis à remoção, pesquisas para legitimar tais ações... Não deve faltar sociólogo para fazer esse tipo de trabalho e dizer que os pobres estão doidos para serem emparedados e removidos da cidade.

No Rio de Janeiro, neste momento, essas forças, que envolvem institutos de opinião, empresas de publicidade, grande imprensa, setor imobiliário, estão totalmente articuladas na varredura da pobreza da cidade. E da pobreza rebelde, que é uma marca do Rio de Janeiro há muito tempo, pois foi uma cidade quilombola, depois janguista, brizolista...

Estamos diante de um conjunto de interesses escusos, mais uma ‘blitzkrieg’.

CC: Diante do quadro atual, quais medidas seriam efetivas a seu ver, tanto a curto como a longo prazos?

VM: O inverso disso tudo, uma outra maneira de olhar a cidade. Construir políticas habitacionais democráticas, projetos em que as classes populares sejam protagonistas.

Não bastam bons projetos para os pobres, é preciso que esses setores estejam no centro, que a juventude, ao invés de ser criminalizada, seja participante central dos projetos que a libertem dessa concepção de muros, cadeias, extermínio. Temos de produzir outro projeto brasileiro, que não contenha essas conjugações.

É complicado resolver a violência, ninguém tem a solução. Mas uma cidade democrática é gerida de outra forma, e assim produz soluções também democráticas e libertadoras, capazes de permitir que todos usufruam a cidade, apesar das diferenças.

Em suma, é o oposto de tudo isso.

Valéria Nader, economista, é editora do Correio da Cidadania; Gabriel Brito é jornalista.